segunda-feira, 14 de maio de 2018

Renato Gaúcho volta a comentar sobre o Flamengo em entrevista



Acompanhei de perto a carreira de jogador de Renato Portaluppi, o Renato Gaúcho. Fui testemunha ocular do sufoco que ele, com 19 anos, deu em Júnior, nas finais do Brasileiro de 1982, vencido pelo Flamengo.


Vi de perto, também, sua brilhante passagem pelo Flamengo, que culminou com o título brasileiro de 1987. Houve ainda o gol de barriga, pelo Fluminense, em 1995, e muito mais. Era, indiscutivelmente, um super craque.

Renato só não é reconhecido internacionalmente porque teve uma passagem apagada pela Roma (onde se contundiu seguidamente e foi boicotado por alguns de seus principais companheiros) e também porque não pôde disputar a Copa de 86, quando estava “voando”, mas acabou cortado pelo rigoroso técnico Telê Santana, ao chegar atrasado na volta de uma folga, na concentração da Toca da Raposa - acompanhava o grande amigo Leandro, que estava visivelmente embriagado.

Como treinador, entretanto, confesso, Renato Gaúcho nunca me pareceu mais do que um grande motivador. Um falastrão bem-humorado, que ganhava o grupo com o carisma e o cartaz de ídolo, tanto no Grêmio, quanto no Fluminense, quando chegou a ser vice-campeão da Libertadores.

Seu trabalho de agora, porém, é de se bater palmas de pé. O tricolor gaúcho não somente ganhou a Libertadores do ano passado, com autoridade, como parece ter evoluído na atual temporada, mesmo sem contar com craques consagrados e caríssimos, como os principais rivais.

Aos 55 anos, Renato é a melhor novidade num momento em que jovens treinadores surgem e velhos medalhões, como Muricy, Felipão, Luxemburgo e Joel, saem de cena. Ele tem dois sonhos que vão além das fronteiras do Sul: treinar o Flamengo e a seleção brasileira. Está no caminho certo.

Para encerrar esta apresentação, antes da entrevista, reproduzo deliciosa história que me foi contada por Valdir Espinosa, treinador de Renato Gaúcho  nas vitoriosas campanhas da Libertadores e do Mundial de 1983.

- Eu dirigia o Grêmio e tínhamos acabado de derrotar o Ajax, treinado por Johan Cruyff , num amistoso no Marrocos. Quando me encontrei com ele, nos vestiários, não resisti a uma gozação. Perguntei-lhe, como quem não quer nada: “E aí, o que você achou do nosso número sete? Desmontou o seu time, hein”? E o capitão da Laranja Mecânica de 1974 rebateu, sem perder a pose: “O meu e o seu também. Precisa dar uma bola só pra ele jogar, senão ninguém mais joga”.

O sete era Renato Gaúcho, em esfuziante início de carreira.

O Grêmio joga, desde o ano passado, um futebol apontado, com justiça, como o melhor do Brasil, com um elenco que não tem tantos jogadores de renome (como, por exemplo, Palmeiras,  Cruzeiro e Flamengo). Você esperava, sinceramente, atingir esse nível de excelência?

O Grêmio realmente não tem nenhum jogador contratado a peso de ouro. Mas é um grupo extremamente comprometido. Temos grandes valores aqui, jogadores que estão cotados para a seleção, mas o nosso conjunto é muito forte. Sempre gostei de colocar meus times para jogar de forma voluntariosa, pensando no ataque e gostando de ficar com a bola. Esse time tem essa característica.

Jogadores como Cortez, Jael, Maicon, o próprio Léo Moura (pela idade) tinham sido desprezados pelo mercado e com você estão jogando em alto nível. Como isso foi feito?

O jogador que tem qualidade não esquece como se joga futebol. É preciso dar confiança. E é isso que eu faço todos os dias. Converso com eles olhando no olho.

Num momento em que alguns treinadores da velha guarda vão saindo de cena, você desponta como uma grande novidade. Acha que se modernizou ou considera que o trabalho que vem fazendo agora é o mesmo que já fez em passagens anteriores pelo Grêmio e pelo Fluminense?

Natural que com o tempo você vá se aprimorando, ganhando experiência. Vi muita coisa nestes dois anos em que fiquei parado. Falei com diversas pessoas, dentro e fora do futebol.

Você diz que o técnico que não sabe, deve estudar, mas que aquele que sabe, não precisa. É isso mesmo, ou essa frase faz parte do seu estilo irreverente?

Claro que todos precisam se atualizar, estudar. Em qualquer área. Mas não precisa ir para a Europa, ficar uma semana e dizer que voltou diferente. É isso que eu digo. Um aluno de medicina vai para a Europa, fica 10 dias e quando volta sai operando por aí? Claro que não. Eu estudo sim, mas da minha maneira.

Que técnico estrangeiro você mais admira? Guardiola, Mourinho, Wenger, Ancelotti? Você assiste aos jogos dos times deles?

Gosto de todos esses que você falou. Tenho minhas próprias ideias, mas é claro que vendo os jogos de grandes equipes você sempre tira alguns ensinamentos. Vejo todos os jogos de todos os campeonatos do Brasil e do mundo. Fico trancado em um quarto de hotel. Só tenho isso para fazer (risos).

Quem foi o seu melhor treinador e em qual você se inspirou?

Trabalhei com os melhores treinadores do Brasil e aprendi um pouco com cada um deles. Sei que é um pouco repetitivo dizer isso, mas é a verdade. Tirei tudo de bom e até mesmo de ruim de cada um.

É óbvio que sua prioridade é a Libertadores, mas o torcedor gremista pode ter esperanças de vencer também o Brasileiro, que não ganha há 22 anos?

Você nunca me ouviu dizer que a Libertadores é a nossa prioridade (risos). Isso é você quem está dizendo. O Grêmio montou um grupo forte para disputar as três competições e vamos em busca disso. Se vamos ganhar alguma delas eu não sei. Mas estamos trabalhando para isso.

Você acredita que será o sucessor de Tite, na seleção? E o Flamengo? Quando vai realizar o seu sonho e o da torcida?

Me sinto preparado para assumir a seleção, mas a seleção está muito bem servida com o Tite. Ele fez o torcedor brasileiro voltar a sentir prazer em ver a seleção jogar e disse isso a ele quando esteve aqui no Grêmio. Um dia a minha hora vai chegar. Quanto ao Flamengo, nunca escondi de ninguém que tenho esse sonho e sei que um dia vou realizar. Poderia ter sido agora, mas não foi o momento.

Acha possível, algum dia, dirigir o Internacional?

Com todo respeito ao Internacional, isso nunca vai acontecer.

Você jogou muita. Mas acha mesmo que foi melhor que o Cristiano Ronaldo?

Claro que sim. Me admira você, que me viu jogar e é Flamengo, ter dúvida disso! Gosto muito do Cristiano, é um dos melhores do mundo, mas queria ver ele jogando aqui, com campo esburacado e salários atrasados. E me coloca lá no Real Madrid com aquela seleção, pra você ver o que eu faria...

Fonte: Renato Maurício Prado

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