sexta-feira, 26 de maio de 2017

Por que zagueiro da seleção da Suíça é torcedor fanático do Flamengo?



A seleção da Suíça, hoje uma das grandes forças do futebol mundial (é a 9ª colocada do ranking da Fifa, à frente de Espanha, Itália e Inglaterra, e esteve nas três últimas Copas do Mundo, além da última Euro), tem um flamenguista doente em seu miolo de zaga.


Apesar de ter nascido na Suíça, país que defende desde as seleções de base, ele também tem nacionalidade brasileira.

Trata-se de Léo Lacroix, defensor de 25 anos que foi revelado pelo Sion e atualmente defende o tradicional Saint-Étienne, da França.

"Meu pai foi conhecer minha mãe no Brasil no Rio de Janeiro, em Copacabana! Ele estava de férias, então eles sem mudaram para Europa e casaram", conta Léo, ao ESPN.com.br.

"Eles tiveram minhas irmãs mais velhas e sou o caçula. Nasci em 1992, em uma cidade montanhosa perto de Lausanne. Quando eu tinha três anos meus pais se separaram, mas eu continuei morando na Suíça", relata o zagueiro, que terminou a temporada como titular em seu primeiro ano pelo Saint-Étienne.

Apesar de ter mãe brasileira, Lacroix só foi aprender português direito quando se mudou para a Itália, no início da adolescência.

"Ainda criança, eu me mudei para Lausanne e comecei a jogar futebol e a frequentar a comunidade brasileira na cidade. Aos 12, morei na Itália, em Florença. Foi lá que eu aprendi a falar mais português, porque tinha uma comunidade brasileira na igreja. Sempre tinha uma pelada e churrasco de final de semana", lembra.

Apaixonado por futebol, Léo começou a fazer testes aos 15 anos para tentar se tornar profissional. No entanto, precisou aprender na marra um pouco da "malandragem" dos boleiros brasileiros para conseguir uma chance em um clube.

"Quando fiz 15 anos, voltei para Suíça para tentar fazer teste no Sion, mas não fui muito bem. Em dois dias de testes eu já não quis mais voltar. Aí, em janeiro de 2009, decidi que queria jogar no Brasil e viver uma experiência diferente. Eu tinha todos os documentos de brasileiro e quis ir ao Rio de Janeiro. Fui parar no São Cristóvão. Queria conhecer a luta do jogador brasileiro para ser profissional", explica.

"Foi uma boa experiência e cresci para caramba! Os caras do meu time falavam: 'Você é louco? Você é suíço, a gente sonha em ir para lá e você quer ir para cá? Só me chamavam de 'Suíço' nessa época (risos)", brinca.

Nesse período no São Cristóvão, mesmo time que revelou Ronaldo "Fenômeno", Lacroix experimentou todas as agruras de um boleiro carioca em início de carreira.

"Eu morava em Campo Grande e todo dia eu pegava ônibus cedo para poder ir treinar. Era engarrafamento todo dia na Avenida Brasil de manhã (risos)! Mas levei na maior positividade, porque estava muito feliz. Sabia que me ajudaria", salienta.

"Aprendi coisa pra caramba nesse período. Essa vontade dos brasileiros de lutar até o fim pelas contas me empolgou. Não aceitam as derrotas, se a coisa tá ruim da direita, vai pela esquerda achar uma solução. Até hoje agradeço por essas experiências", exalta.

No Rio, o zagueiro também conheceu todas as diferenças entre "brazucas" e suíços.

"Eu gosto muito do povo e do estilo brasileiro. Incluindo a parte da festa e da gritaria (risos)! O brasileiro conversa com as pessoas na fila do banco, e até no táxi. Gosto dessa alegria. Na Suíça é mais organizado, tudo certinho, mas o povo é mais frio. Quando minha família do Brasil vem para Suíça, sempre gostam muito, mas eu brinco com eles: 'Vocês têm o país mais lindo do mundo e gostam da Suíça? (risos)'", sorri.

De volta à Suíça

Bem quando estava totalmente adaptado ao Rio, Léo teve que voltar à terra natal.

"Depois de seis meses no Rio, minha mãe veio ao Brasil e disse que eu precisava voltar para a Suíça. Nessa época, fiquei muito mal. Estava bem no Rio, e nem queria mais voltar, porque já tinha amigos e estava bem adaptado. Mas ela disse: 'Estou sentindo que você precisa voltar ao Sion e fazer o teste outra vez. Senão, poderá se arrepender pelo resto da vida'. E ela estava certa", conta.

Lacroix, então, fez novos testes no Sion e foi prontamente aprovado, dando início à sua carreira profissional. Ao mesmo tempo, também aproveitou para se dedicar aos estudos.

"Fiz faculdade de hotelaria, porque meu pai era dono de restaurante e eu gosto de cozinhar. No inverno, bombava de gente pelos Alpes suíços! O Phil Collins ia muito lá no restaurante", recorda.

Quando chegou ao Sion, Léo estava sozinho na cidade e acabou indo morar em uma casa de família, como em um intercâmbio.

Na base do clube, porém, veio sua primeira convocação para a seleção sub-18 da Suíça, o que fez depois com que seu clube o chamasse para morar no hotel da concentração.

A subida para a equipe adulta aconteceu em 2010, quando ele disputou a última partida da temporada, em sua estreia como profissional.

Ele se firmaria entre os titulares no ano seguinte, durante a campanha na Liga Europa, que o Sion disputou como campeão da Copa da Suíça.

"Jogamos contra Rubin Kazan, Liverpool e Bordeaux. Até troquei camisa com o Philippe Coutinho! Conseguimos um empate por 1 a 1 com o Liverpool em Anfield, foi histórico! Aquele dia foi muito bom, acho que joguei muito bem contra eles e isso me ajudou demais na carreira. Fiquei ainda mais visto depois que fiz um gol no Bordeaux", relata.

Foi treinado por Gattuso

Uma das grandes experiências de Lacroix durante os muitos anos que defendeu o Sion foi ser treinado por Gennaro Gattuso, o lendário "Deus da raça" do Milan e da Itália.

"O Gattuso chegou como jogador em 2012, depois virou treinador em 2013. Quando ele ficava nervoso, era igualzinho nos jogos do Milan. Ele ama o que faz e dá sempre o máximo (risos). Um cara muito profissional e ajudava muito a gente", elogia.

"Ele me fazia treinar muito, sempre me falava que o Nesta e o Maldini trabalhavam depois do treino para melhorar o entrosamento. Ele tem futuro como treinador e entende muito de bola. Foi treinado por grandes técnicos e no melhor time do mundo à época", ressalta.

Léo também conheceu a família de Gattuso, que é um tanto peculiar.

"Íamos sempre a um restaurante com ele e o filho, o Francesco. Se você queria apertar a mão, o moleque já dava um soco (risos)! Era igualzinho ao pai, raçudo desde criança (risos)", gargalha.

O suíço-brasileiro também lembra uma das grandes broncas que viu do italiano.

"Tinha um atacante no Sion que tinha feito um gol que salvou o clube do rebaixamento há uns anos. Mas o cara estava numa 'inhaca' total. Aí, depois de um jogo péssimo desse cara, o Gattuso ficou 'bolado' com ele", rememora.

"Ia ter um amistoso contra o Milan, e o cara queria jogar de todo jeito. Ele falava: 'Eu sou herói aqui, salvei o time do rebaixamento'. Aí o Gattuso bateu a porta no vestiário e gritou: 'Eu ganhei Copa do Mundo, Champions League e tudo no futebol que você possa imaginar. Mas isso é tudo passado! O que conta para mim é o presente'. O cara ficou 'pianinho' (risos)", conta.

Amor pelo Flamengo

Após se destacar pelo Sion, Léo Lacroix foi contratado em 2016 pelo Saint-Étienne, por 3 milhões de euros (R$ 11 milhões). Em sua primeira temporada, alternou entre o banco e a titularidade, mas terminou o ano jogando no 11 inicial do técnico Christophe Galtier.

"Este ano foi mais de adaptação ao futebol francês, não joguei tanto. Na temporada que vem, espero jogar mais vezes. Preciso de sequência para estar bem", diz o atleta, que fechou 2016/17 com 24 partidas pela equipe alviverde.

Observado há tempos pelo treinador da Suíça, Vladimir Petkovic, Léo recebeu sua primeira convocação para a seleção principal em outubro do ano passado, para as partidas contra Hungria e Andorra, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2018. Depois, foi chamado também para os duelos contra Ilhas Faroe e Letônia.

Até o momento, ele só ficou no banco, mas acredita ter agradado Petkovic nos treinos e agora sonha com um chamado para o Mundial de 2018, na Rússia.

"Meu sonho é jogar a Copa do Mundo e já fui convocado quatro vezes. Imagina ainda se puder jogar contra o Brasil? Seria uma benção de Deus na minha vida!", imagina.

E, apesar de morar na França e jogar pela Suíça, Lacroix segue muito ligado ao Brasil. Afinal, é torcedor fanático do Flamengo desde a infância e acompanha as partidas do time rubro-negro sempre que pode.

"O Flamengo foi a primeira camisa que ganhei quando criança, porque meus pais gostam muito clube. Fui ver alguns jogos no velho Maracanã com meu tio. Era uma coisa de louco, maravilhoso! Minha família é maioria rubro-negra, aí eu virei também. Sempre vejo os jogos TV internacional e pela internet", relata.

Uma de suas grandes inspirações no futebol, aliás, é um grande ídolo do Fla.

"Gosto demais do Mozer. Não o vi jogar, mas acompanhei muito a careira dele pela internet. Ele era um monstro na zaga, não dava espaço para ninguém. Ainda vejo muito vídeos dele e gosto demais. O Juan era outro cara que gostava demais, além do Léo Moura. Adriano 'Imperador' e Petkovic são feras! Ainda sonho em conhecer esses caras, são meus ídolos", sonha.

Lacroix também se imagina um dia vestindo o manto rubro-negro.

"Eu não fecho as portas para jogar no Brasil! Sempre falo para minha esposa, que é nascida em São Paulo: 'Se um dia tiver uma chance com um bom contrato, por que não?'. E se for no Flamengo, melhor ainda! Seria um sonho vestir essa camisa", finaliza.

Fonte: Espn

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