quarta-feira, 3 de maio de 2017

"Diego não é craque", segundo Tostão da Folha de São Paulo



Dias atrás, em minhas caminhadas diárias, quando converso com as pessoas sobre futebol e outros assuntos, um leitor me perguntou por que quase todos os times jogam da mesma maneira, por que os comentaristas discutem as mesmas coisas e por que há tantas enquetes sobre quem é o melhor, que mudam a cada semana. Esses provocantes questionamentos servem de reflexão aos treinadores e a todos nós, que escrevemos e falamos sobre futebol.


Até anos atrás, quase todos os grandes times europeus, quando perdiam a bola, marcavam com duas linhas de quatro. Isso começou em 1966, com a seleção inglesa.

Já no Brasil, fazer o mesmo era chamado de retranca, uma afronta à nossa essência e ao futebol arte. Hoje, a maioria das equipes brasileiras, com qualquer sistema tático, defende dessa forma. Isso começou com Mano Menezes e Tite, ambos no Corinthians.

Carile repetiu as ideias de Tite, mas, nos últimos jogos, mudou, ao escalar dois volantes (Gabriel e Maycon) e adiantar Rodriguinho, para jogar mais próximo a Jô. O ataque melhorou. Há várias maneiras de jogar bem e de ganhar.

No Brasil, há uma tradição e uma admiração pelos clássicos meias de ligação que jogam entre os volantes e o centroavante, mas exageram nos elogios a esses habilidosos jogadores. Foi o que eu disse sobre Diego, do Flamengo. Muitos estranharam e não entenderam. É óbvio que Diego é muito bom para o nível de futebol que se joga no país. Se fosse um craque, teria sido, pelo menos, destaque de uma grande equipe na Europa.

É necessário também diferenciar o clássico meia de ligação do ponta de lança, segundo atacante, que faz dupla com o centroavante. Essas duplas continuam frequentes, em todo o mundo, como De Arrascaeta e Sóbis, Robinho e Fred, Agüero e Gabriel Jesus, Benzema e Cristiano Ronaldo e outras.

Nas equipes que não têm um clássico meia de ligação, a armação das jogadas pelo centro é feita pelo meio-campista, que joga de uma área à outra, por um dos dois atacantes, que recua, ou pelo meia que atua pelo lado, que se desloca para o centro, como Jadson, no Corinthians. O que geralmente não funciona bem é ter dois volantes, dois pontas pelos lados, que atuam muito abertos, um centroavante fixo e um meia pelo centro, como único responsável pela armação das jogadas, como acontece em várias equipes brasileiras.

Os treinadores precisam definir a maneira de jogar, ter uns sete reservas para entrar com frequência e uma ou duas opções táticas para usar no momento certo. O Palmeiras ainda muda muito. O espalhafatoso e agressivo Felipe Melo incitou a violência com suas provocações, foi suspenso e deve prejudicar a equipe. Falta a Borja jogadas mais rápidas e passes mais aprofundados para aproveitar a velocidade. Ele gosta da bola na frente, e não no pé. Borja é um ótimo atacante, que ainda não se adaptou ao time, e Willian é um atacante comum, que vive ótimo momento.

Nas decisões dos técnicos, há muitas coisas certas e erradas, que se misturam e que, com frequência, não dá para saber o que é uma coisa ou outra. Daí, ser mais fácil achar uma única explicação e repetir os chavões e lugares comuns que satisfazem nossa ignorância. Somente agora, após uns 60 anos, entendi bem o que o comentarista Kafunga, ex-goleiro do Atlético-MG, dizia: "No futebol, o errado é que é o certo".

Folha de São Paulo

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