quarta-feira, 29 de julho de 2020

Flamengo é elogiado pelo Itaú, enquanto rivais são esculachados


Flamengo é elogiado pelo Itaú, enquanto rivais são esculachados

O Itaú BBA divulgou, nesta terça-feira, seu relatório anual sobre as finanças dos clubes brasileiros. 

Em sua 11ª edição, o banco traz novamente um resumo individualizado para a situação de cada equipe do país.

Em poucas palavras, a situação do Flamengo, por exemplo, é descrita como “sem nem sinal no retrovisor”. O Grêmio é outro time elogiado, com “os resultados de uma gestão eficiente”. Bem diferente de Corinthians (“desastre à vista”) ou São Paulo (“vivendo há 10 mil anos atrás”).

Veja abaixo o que disse o Itaú BBA sobre as finanças dos principais clubes brasileiros:

ATLÉTICO-MG
“Em algum lugar do passado”

O Atlético-MG está se colocando em risco. O desempenho financeiro de 2019 foi bastante fraco, especialmente se considerarmos o aumento de dívidas bancárias e com impostos. Para fechar as contas de valeu de uma venda de atleta registrada no último dia do ano e da doação de um terreno.

No início de 2020 se viu envolvido no risco de perder pontos por atraso de pagamentos a outros clubes, mas optou pro seguir uma prática antiquada e comum ao futebol associativo brasileiro, que é utilizar fundos de um empresário/associado para cobrir não apenas exigências urgentes, mas também para bancar contratações e remunerações que reforçam o elenco. O resultado dessas ações costuma ser ruim, porque há atletas que recebem e outros que não recebem.

O clube também vendeu parte de seu patrimônio para colocar dinheiro num novo ativo, que ainda levará algum tempo até ficar pronto, e que na maioria dos casos costuma demorar para gerar resultado. Porém, os clubes se baseiam no sucesso (para o clube) do caso Palmeiras/WTorre/Alianz Parque, mas ignoram os impactos nos custos de casos como a Arena Corinthians e a Arena Grêmio.

Ter estádio traz muitos resultados esportivos e de cultura clubística, mas leva tempo para maturar. Nesse ínterim as dívidas continuam altas e gerando impactos no dia-a-dia do clube. Sem contar que o valor do estádio para um clube costuma ser mais esportivo que patrimonial. Diferente de um shopping, que ao ser vendido gera caixa, um estádio no Brasil não é vendido, ainda mais associado a um único clube.


Claro que há alternativas, como vender o restante do shopping center por exemplo, utilizando os valores para reduzir dívidas. Seria algo perto dos R$ 300 milhões recebidos pela venda inicial. Isso não solucionaria o problema, apenas o amenizaria. E não altera o operacional, de forma que o clube precisa encontrar o equilíbrio entre receitas e custos próprios.

O ideal nesses casos é que o patrocinador entre, aporte recursos para garantir a operação do clube, organização corporativa e assim os impactos financeiros positivos chegam no médio/longo prazo.

Há caminhos mais seguros para o futuro. O Atlético-MG parece ter escolhido um cheio de riscos, guiando olhando o retrovisor.


ATHLETICO-PR
“Quem segura o Furacão?”

O Athletico já é um destaque do futebol brasileiro há alguns anos, com estrutura de ponta, com estádio e centro de treinamentos modernos. O aspecto financeiro ainda tem questões a serem resolvidas, mas de maneira geral o clube está muito bem posicionado, resultado justamente do planejamento que vem sendo colocado em prática há alguns anos.

O fato é que do ponto-de-vista operacional o clube apresentou um salto importante em 2019, com excelente geração de caixa, porém calcada na conquista da Copa do Brasil e na venda de atletas. Ainda assim, mesmo sem a Copa do Brasil o clube teria apresentado bom desempenho, porém com menos folga. Já a venda de atletas é fruto de boa formação e contratações eficientes, e o clube retorna o investimento feito nas estruturas.


Ainda assim há riscos, pois é preciso manter fôlego para a falta de conquistas – não é todos ano que se vence a Copa do Brasil – e a venda de atletas é sempre uma incógnita. Além disso o clube precisa lidar de forma mais pragmática com a dívida do estádio, uma vez que os títulos de potencial construtivo que possui tem liquidez que pode demorar a se confirmar. Buscar uma renegociação do passivo com fluxo de caixa mais equilibrado deveria ser colocada em prática o quanto antes, aproveitando o momento de juros baixos.

De qualquer forma falamos de um clube que passa pelo ano de 2020 com baixo risco de problemas, seja porque entrou com boa posição de caixa, seja porque já realizou boas receitas com venda de atletas no 1º semestre. Certamente isso lhe dá capacidade de sair na frente da maioria dos clubes quando a situação retornar ao equilíbrio.

Olho no Furacão, porque vai deixar muita gente para trás.


BAHIA
“O passo que a perna pode dar?”

O Bahia vem fazendo um grande trabalho de recuperação financeira e estrutural. Os resultados são positivos mas ainda inconsistentes. Muito em função da necessidade de acelerar investimentos e gastos para se tornar competitivo.

O problema disso é que o clube se torna dependente dos resultados para fechar suas contas. Melhor desempenho significa mais dinheiro e com isso é possível manter os gastos elevados. Em 2019 foi possível fazer isso, mas dependendo da venda de atletas e de luvas de TV para fechar suas contas.


Entra 2020 e o clube é pega pela pandemia. Com redução de Bilheteria e chance menor de vender atletas, a tendência é sofrer ao longo do ano. Operar sem sobras traz riscos. Tanto é que a tendência é de que em 2020 o clube sofra bastante e precisará de muito jogo de cintura para manter a casa em ordem.

Alguns processos requerem paciência e tempo. Num clube de futebol este conceito contrasta com a necessidade – ou o desejo – de ser relevante. O Bahia faz a lição de casa, cria governança, desenvolve transparência, mas corre riscos que podem fazer o clube andar duas casas para trás. A pergunta que fica é se é necessário agir assim ou se é possível aguardar um pouco, consolidar as estruturas e depois iniciar um processos mais firme de crescimento e competitividade.

O tempo dirá. O Bahia tem tudo para ser um dos clubes de destaque no futebol brasileiro nos próximos anos, se consolidando como força. Precisa paciência.


BOTAFOGO
“Dramático”

Precisamos ser pragmáticos aqui: o Botafogo precisa de uma revolução para sobreviver ao ano de 2020.

Se a situação já era difícil em condições normais de temperatura e pressão, afetado pela pandemia o clube terá pouco mais que as receitas de TV para atravessar este ano. Considerando os adiantamentos e dívidas que consomem as receitas, dá para perceber que sobra pouco para realizar algo minimamente competitivo.


Se não bastasse isso, os dirigentes ainda optam por caminhos que já se mostraram equivocados em tantas outras vezes na história do futebol, como contratar mesmo sem capacidade de pagar as contas. Dizer que “o futebol é assim” não é a melhor forma de encarar o problema.

O que pode salvar o clube será a conversão de associação em empresa. Mas não adianta esperar alguém bradar que “seus problemas acabaram” tão logo vire empresa. O clube precisa de dinheiro para fazer a operação rodar, precisa de um processo que costuma ser longo e doloroso de renegociação de passivos, pois é impossível uma empresa que tem perto de R$ 150 milhões de receitas conviver com dívidas da ordem de R$ 700 milhões. Vai precisar cortar o cordão umbilical com a associação, vender ativos, e ter paciência.

Tudo isso e dependendo de quanto dinheiro entrar num aporte de capital, será como jogar água na chapa quente: o dinheiro some e ninguém verá resultado. Há coisas que só acontecem com o Botafogo.


Chegou a hora de esperar pelo milagre.

CEARÁ
“No rumo certo”

A vida de um clube regional nunca é fácil. Luta com receitas limitadas, maior dependência da TV, e com orçamentos mais modestos toda competição é um desafio na disputa contra clubes de maior envergadura.


O Ceará exemplifica bem esta situação. Positivamente consegue se manter na Série A mesmo com orçamento limitado e dificuldades, mas positivamente de maneira financeiramente equilibrada. Números bons, baixo endividamento, investimentos dentro de suas possibilidades.

Há ainda um aspecto importante que é o envolvimento do torcedor, que responde por uma bom pedaço das receitas (23%), a segunda maior do clube.

Claro que há desafios, como o de conseguir receitas recorrentes mais fortes e gastar mirando nelas. Isto tende a deixar o clube mais robusto e evita situações de desequilíbrios momentâneos que se perpetuam.


É preciso continuar com os pés-no-chão, jogando junto com o torcedor e buscando soluções que permitam maior eficiência no uso do dinheiro. Ao ver equipes de presença nacional em dificuldades, surge uma enorme oportunidade para que o clube se solidifique e permaneça de forma sustentável na elite do futebol brasileiro.

CORINTHIANS
“Desastre à vista”

Não podemos dourar a pílula: o ano de 2019 foi desastroso para o Corinthians sob o ponto-de-vista financeiro. E não foi um acaso nem o primeiro da série.


Ainda há problemas nas receitas, mas atualmente esta é uma questão menor. Ainda que o clube não alcance toda a bilheteria, ela está sendo usada para manter o estádio. A publicidade melhorou a já atinge níveis mais próximos ao potencial do clube. A TV é das maiores do Brasil. Ou seja, o problema está nos Custos e Despesas, que seguem crescendo em ritmo alucinante. E isto força o clube a buscar solução na venda de atletas. E este é um roteiro típico daqueles filmes de catástrofe: tudo está bem quando tudo está bem. Daí, no ano em que não há vendas relevantes de atletas, pronto, a situação desanda.

No caso do Corinthians o problema se agrava porque os custos não param de crescer, porque o Social drena caixa do futebol, e porque o futebol é incapaz de obter eficiência nas contratações, vide o investimento de R$ 91 milhões sem sucesso esportivo relevante em 2019.

Com isso o que resta é o aumento do endividamento, atrasos, renegociações. Problemas. E para piorar, no meio de uma pandemia. Importante ressaltar que não é um problema que começou agora, mas a deterioração vem se intensificando há alguns anos.


Por mais que reduza custos e consiga fazer venda de atletas, a situação ao final do ano será complicada, pois o ano iniciou com dívidas elevadas, e o esforço necessário para o reequilíbrio será brutal, e acabará se arrastando por alguns anos.

Este é o ponto: não dá mais para repetir que “o futebol é diferente”. Não é. Algum momento a conta chega, salgada e sem crédito no cartão. O resultado nesses casos costuma ser mais que ter que lavar pratos, e os exemplos estão na frente de todos. O cuidado é justamente não se transformar em sinônimo de exemplo ruim.

CRUZEIRO
“Como será o amanhã?”


Não há prazer em dizer que a situação do Cruzeiro é insustentável. Há alguns anos estamos apontando este tema e alertamos que o clube vivia além do limite e dependia de fatores imponderáveis, como conquistas ou venda de atletas, para fechar suas contas. Ainda assim acumulava dívidas.

A corda estourou e o abismo é fundo.

Temos que analisar mais a chance de recuperação que o que levou o clube a este momento, até porque muito já se falou. A verdade é que jogando a Série B e com muitas receitas comprometidas e sem torcida, o retorno imediato à Série A deixa de ser óbvio. Mesmo que volte imediatamente, se colocará defronte a uma situação incomum nos últimos anos: gastar apenas o que arrecada. Ou melhor, bem menos do que arrecada, pois há muitas dívidas a equacionar. Com menos receitas e custos, a competitividade fica prejudicada.

Claro que há alternativas. Se alguém colocar dinheiro e equalizar o fluxo de caixa, se o clube conseguir retornar rapidamente e montar elencos baratos e eficientes, se vender muitos atletas por valores elevados, se renegociar os passivos com enormes descontos e prazos longos, se retomar os programas de refinanciamento de passivos tributários, se as dívidas pararem de aumentar, se o clube virar empresa. Bem, há inúmeros “ses” no futuro do Cruzeiro.

A torcida negou os problemas e agora nega a realidade: sim, o clube vencedor não é mais o mesmo, e o retorno às glórias levará tempo, demandará dinheiro, capacidade de gestão, e muita, mas muita paciência. Se fosse um ano como os outros já seria complicado, mas sendo num ano como é 2020, o que se pode fazer é torcer. Não foi falta de aviso, e não será por falta de esperança.

FLAMENGO
“Nem sinal no retrovisor”

Chegou ao tão esperado ano das conquistas, quando a capacidade econômico-financeira encontrou a capacidade esportiva. E foi um grande ano, quase perfeito.

Passou, 2020 iniciava com tendência de manutenção do cenário, mas eis que surge a pandemia e coloca um freio na explosão flamenguista. Impactos certos em receitas com Bilheteria e Sócio Torcedor, talvez com Publicidade, um pouco menos de TV é possível. Mas com custos e despesas maiores, em função de um elenco ainda mais qualificado.

De qualquer forma o clube não parece correr riscos. Certamente terá dificuldades com fluxo de caixa, o que é natural para todos que ficam meses sem receitas relevantes e custos correndo. Mas tem capacidade de se recolocar rapidamente nos trilhos quando alguma normalidade retornar.

Fica um sinal de alerta que é o volume elevado de venda de atletas nos últimos anos, e que talvez se torne uma necessidade adicional em 2020 para ajudar a manter o conforto financeiro. Faz parte, mas com o tempo precisa reduzir esta dependência.

No mais, é surfar a onda de bonança. O futebol é cheio de surpresas, especialmente as que surgem dentro das estruturas. Não parece que elas estejam no horizonte, especialmente num ano que a maioria dos clubes tende a sofrer muito mais que o Flamengo. O clube se distanciou a tal ponto que os adversários mais próximos não são nem percebidos.

Segue o jogo!

FLUMINENSE
“Tempestade à vista”

Fluminense é mais um dos clubes que opera no processo de enxugar gelo. Por mais que faça ajustes e cortes de custos, enfrenta uma condição de endividamento tão alto que o atual porte de receitas é incapaz de dar conta sozinho de servir a dívida.

O problema é que vira um círculo vicioso, pois o clube é obrigado a buscar financiamentos operacionais para pagar passivos refinanciados, usa a venda de atletas para tapar buracos operacionais e o impacto de tudo isso é um ajuste lento.

O clube precisa encontrar um equilíbrio que parece distante. Significa reduzir ainda mais os custos e entrar num risco de enfraquecimento maior do elenco, com risco de rebaixamento. Mas como operar um endividamento tão alto com receitas insuficientes para servi-lo?

Não há segredo. É preciso vender ativos, encerrar atividades deficitárias, reduzir custos, alongar passivos. Ou o clube não sairá desse círculo vicioso, que 2020 deixará ainda pior.

O futuro do Tricolor das Laranjeiras tem horizonte bastante carregado.

FORTALEZA
“De grão em grão”

O Fortaleza apresenta situação equilibrada. Trata-se de um clube que tem poucas dívidas, equacionadas, que tem boa diversidade de receitas e depende menos que a média da TV. Mas vive de maneira justa, com pouca geração de caixa, e isso deixa menos margem na hora de enfrentar problemas.

A intenção é clara, pois o clube precisa investir no máximo que seus limites permitem para ser capaz de competir com outros que fazem mais receitas. Mas há que ter cuidado para não deixar essa necessidade ultrapassar os limites. Em 2019 o resultado esportivo foi bom, o que mostra que a estratégia funcionou. Mas é preciso estar atento.

A tendência é de ocupar espaço que antes era dominado por clubes de maior presença nacional. A gestão equilibrada permite pensar nisso.

Em 2020 a situação apresenta um desafio que é conseguir se financiar de maneira eficiente. Hoje o clube depende de mútuos de sócios, mas o ideal é buscar autonomia financeira para se financiar com prazos longos e estrutura estável, criando reconhecimento no mercado de sua gestão.

O caminho está sendo construído, de forma segura. Esperamos que os passos continuem a serem dados de acordo com o tamanho das pernas.

GOIÁS
“Controle total”

A trajetória do Goiás é muito segura. Mesmo no período em que esteve na Série B manteve os pés-no-chão, controlou custos e trabalhou dentro de suas possibilidades.

Ao retornou fez investimentos, mas sempre utilizando suas possibilidades; Saber onde quer e como chegar é fundamental.

O clube não tem dívidas, gasta dentro do que arrecada. Mas nem tudo são flores. Ainda depende muito da TV e poderia extrair mais do relacionamento direto com seu torcedor, como mostram as Bilheterias e receitas com Sócio Torcedor baixas. Não chega a comprometer, longe disso, mas são estratégias que permitiriam mais possibilidades de receitas e consequentemente maior competitividade.

O Goiás é um dos bons exemplos do futebol brasileiro. Clubes regionais tem sido eficientes nas finanças e por isso se colocam como candidatos a vagas permanentes nas Série A. O Goiás é candidatíssimo.

GRÊMIO
“Os resultados de uma gestão eficiente”

O Grêmio mostrou mais uma vez que há a possibilidade de fazer mais com menos. Ainda que mantenha uma distância razoável de receitas em relação a Flamengo e Palmeiras, o clube gaúcho conseguiu manter a boa capacidade competitiva sem desequilibrar as finanças. Não significa conquistas todos os anos, mas capacidade de disputada em nível de conquista.

As dívidas continuam comportadas, os custos dentro das possibilidades. Mas sempre há o que evoluir. No caso do Grêmio o ideal é buscar maior equilíbrio em relação às receitas recorrentes, o que significa depender menos da venda de atletas. Ainda que o clube esteja num bom momento de formação e negociação, é sempre um risco quando o mercado não se abre.

Este equilíbrio, reforçado por uma boa presença das receitas com sócios, permite ao Grêmio atravessar o ano de 2020 com menos dificuldades que a maioria dos clubes brasileiros. Além de uma condição equilibrada o clube tem capacidade de acessar financiamentos, e como paga salários em dia pode negociar parcelamento de parte dos vencimentos dos atletas. Assim, quando as atividades retomarem seu rumo o clube se qualifica a se recuperar mais rapidamente.

O Grêmio é um dos exemplos de que o futebol pode ser equilibrado e forte.

INTERNACIONAL
“Caminho longo e tortuoso”

Parece que as coisas não evoluem tão rapidamente como deveriam no Internacional.

A gestão que veio com ares de modernidade evolui em compliance e governança, mas ainda não tem resultados relevantes fora de campo. Pior: não tem nem sinal deles.

Depois de um início de recuperação em 2018 o clube patinou em 2019. Depende da venda de atletas para fechar as contas e da premiação da Copa do Brasil. Ainda assim investiu e aumentou as dívidas. No lugar de seguir adiante o Colorado parou no acostamento. Talvez esperando alguém que indique o caminho correto.

O clube precisa encaixar um modelo mais eficiente de gestão, com controle efetivo de custos e menor dependência de receitas não-recorrentes ou variáveis. Não é mais possível trabalhar um clube de futebol esperando apenas a venda de atletas ou contando com uma conquista para fechar as contas. Aliás, elas chegam normalmente mais rápido que o dinheiro para pagá-las.

Com os desafios inerentes ao ano de 2020, o Internacional terá enormes dificuldades em sair desse círculo viciosa em que se meteu. Será mais um ano que estar parado no acostamento será lucro, pois a tendência é que siga e pegue o caminho contrário. E o retorno é bem distante.

PALMEIRAS
“Ajustando rotas para retomar eficiência”

O Palmeiras perdeu eficiência em relação a 2018. Redução de receitas e geração de caixa, aumento de dívidas, manutenção dos elevados investimentos. Tanto é que a decisão do clube foi de reduzir custos e ajustá-los a uma realidade mais austera em 2020. Mas foi pega pela pandemia.


Ainda assim trata-se de uma estrutura forte, sustentada por um bom leque de receitas e com possibilidades reais de redução de custos e despesas, uma vez que eles eram bastante elevados.

O desafio agora é retomar a eficiência esportiva, uma vez que a situação financeira estrutural é equilibrada, o clube possui elenco qualificado e precisa se colocar mais próximo dos títulos em relação a 2019, quando o Flamengo descolou nesse sentido. Não será todos os anos que os títulos chegarão, mas é necessário estar mais próximo deles, especialmente pela capacidade financeira.

Há desafios que a pandemia torna mais complexos, como as dívidas por aquisição de atletas. O fluxo de caixa mais apertado pela ausência de partidas e queda de receitas certamente gerará impactos que precisam ser tratados. Não é à toa que voltaram fortes as negociações de atleta. Vende-se os anéis para não perder os dedos, e usa o elenco qualificado.


De qualquer forma a gestão é capacitada e já deixou claro os objetivos, mesmo num ano complicado com 2020: controle de custos e resultados em campo. Hora de fazer valer os investimentos dos últimos anos.

Mesmo com desafios, tudo certo com o Palmeiras.

SANTOS
“E se o acaso não proteger?”


Em 2019 o Santos fez uma enorme ginástica para conseguir fechar o ano. Ainda assim com dificuldades conhecidas como atrasos ao longo da temporada, conforme informado pela imprensa. Este é o movimento natural dos clubes que gastam contando com as receitas de venda de atletas. Primeiro porque elas são incertas, depois porque elas nem sempre entram no fluxo ideal – e para adiantar os recursos custa caro – e por conta disso acaba gerando nervosismo na gestão.

O Santos precisa entender que há limites de gastos e investimentos, e que a venda de atletas não pode ser o pilar. E então vem o desafio de fazer mais receitas recorrentes, seja em patrocínio, seja em relacionamento direito com os torcedores. A TV já garante uma boa receita, então a dificuldade está justamente em lidar com as demais receitas a partir da força da marca.

Vendas de Atletas precisam ser utilizadas para garantir o equilíbrio, pagando dívidas, investindo em estrutura e parte dos valores utilizando para ajudar no reforço da equipe. E investir em eficiência, de montagem de elenco, de relacionamento com torcedores e parceiros.


Em 2020 o cenário é bastante duro por natureza, e será ainda mais se o clube não vender mais atletas e reduzir custos de forma sensível. Há muitas dívidas e muitas batalhas relacionadas às contingências. Logo, será mais um ano de gestão nervosa e riscos, desnecessários para um clube onde o raio da formação de atletas costuma cair com frequência.

O Santos precisa sair do círculo vicioso e reencontrar a rota onde não mais o acaso, mas o planejamento, sejam a mola propulsora do clube.

SÃO PAULO
“Vivendo há 10 mil anos atrás”


A recuperação era lenta, os erros existiam, mas ao menos o rumo era conhecido. Em 2019 o São Paulo resolveu não apenas repetir os erros comuns a tantos clubes, como aumentou a carga. Afinal, a vida é curta para economizar e passar vontade. E a gestão esportiva fala mais alto que a gestão financeira.

Pois bem, o resultado foi um clube que aumentou substancialmente suas dívidas, ficou longe de resultados esportivos relevantes, cometeu tantos velhos erros das gestões do futebol, e ainda foi incapaz de alavancar as receitas recorrentes. O Futebol gasta, o Marketing olha e o Financeiro corre para tentar pagar as contas. Era assim na época da bola de capotão. Hoje não dá mais.

Se antes o clube vivia num eterno Dia da Marmota, agora a marmota engordou e deixou estragos que serão complicados de serem resolvidos.


A pandemia de 2020 apenas reforçou a necessidade de vender atletas da base para fechar as contas já debilitadas. O problema é que se antes as vendas serviriam para ajudar a colocar as dívidas em ordem, agora elas mais que nunca ajudam a diminuir os problemas de caixa da operação. Fruto de uma gestão que em 2019 incorreu em todos aqueles erros citados acima: contratar demais e caro, com critérios técnicos questionáveis, aumentando a dívida mas sem trabalhar o aumento das receitas de forma eficiente – a velha máxima do “vamos trazer patrocinadores” que nunca acontece mas as gestões do futebol sempre repetem – tudo porque a glória é hoje.

Sem paciência, planejamento, gastos controlados e eficientes, tecnologia, inovação, o São Paulo seguirá se achando na vanguarda, operando uma calculadora Facit enquanto os adversários já usam inteligência artificial. O São Paulo precisa deixar o passado e entender que o futuro é hoje.

SPORT
“Tavez um milagre ajude”


O primeiro ponto relevante é que o Sport não ajuda nas suas análises porque não oferece demonstrações financeiras com os detalhamentos ideais.

Com base no que temos é possível ver um clube em extrema dificuldade, com receitas limitadas, dívidas elevadas e um risco enorme de ficar entre a cruz e a espada: ou gasta (sem poder) para se manter na Série A ou retorna à Série B e mantém as dificuldades. Aliás, dificuldades serão mantidas esteja onde estiver o Sport em 2021, pois o clube entrou num processo de endividamento tão alto e concentrado no curto prazo que fica difícil o clube se recuperar no curto prazo.

A realidade do Sport é bastante complicada e demandará mais que boa gestão para se recuperar


VASCO
“As chances estão diminuindo”

O Vasco sofre com dois problemas graves: a incapacidade de aumentar receitas e um tamanho de dívida que é difícil de ser gerido a partir de receitas limitadas.

É um círculo vicioso que nem o controle de custos que tem sido feito é capaz de ajudar. O fato é que para que o clube de futebol se reequilibre é fundamental um corte profundo nos demais custos e despesas, porque cortar mais do futebol começa a gerar um risco de perda de qualidade de elenco que pode culminar com rebaixamento, e isto implica em quedas ainda maiores de receitas.


Está na hora de uma transformação mais profunda das estruturas do Vasco. E 2020 pode até ajudar nesse sentido, se conseguir vender atletas, cortar custos aproveitando o tema da pandemia e se reorganizar. Precisa também trabalhar de forma mais eficiente na gestão do dinheiro relacionado ao futebol, gastando melhor o que tem, e pensar em venda de ativos para ajustar as dívidas ao tamanho possível.

Vender os anéis para ficar com os dedos. O risco de perder os dedos aumenta a cada temporada em que os processos não evoluem na velocidade que precisam. A cada ano que passa na situação atual o clube perde capacidade competitiva e isso no futebol costuma ser fatal.

VITÓRIA
“Paciência e pés no chão”

O Vitória é daqueles casos de clubes que enquanto se mantém na série A se sustentam à base das receitas de TV, que favorecem vendas de atletas. O problema é quando caem, perdem as receitas mas permanecem com inúmeros problemas de dívidas, que a nova realidade não comporta.

Mesmo com ajustes, menores que a necessidade demanda, o Vitória foi incapaz de alcançar o equilíbrio. É preciso um esforço maior, uma gestão mais eficiente e com os pés-no-chão, e que se ampare nas categorias de base como forma de reverter o cenário difícil.

É um ciclo vicioso que precisa ser rompido, mesmo que leve algum tempo até que o clube reencontre o equilíbrio e a capacidade de ser competitivo.

Fonte: Espn

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