sábado, 24 de fevereiro de 2018

Entenda como o Flamengo usa a TI para ganhar no campo



Recebi um email de um leitor flamenguista querendo saber minha opinião sobre o balanço 2017 da vice-presidência de Tecnologia de Informação (TI).


Estaria o Flamengo caminhando para um porto seguro? Fui conversar o clube. Gostei do que ouvi.

Para muitos, o cara de TI é aquele anjo da guarda a quem apelamos quando o computador dá pau. Entretanto, TI estratégica é outra coisa: atende à visão de futuro da organização. No Flamengo, a área está subordinada ao Conselho Diretor, sob o nariz do presidente. Isso significa que os dirigentes priorizam o uso de inteligência de dados na melhoria do seu processo decisório em ambiente de incerteza. Gol do Flamengo.

O clube desenvolveu um Plano Diretor de Tecnologia. Um dos seus objetivos é conectar ao Departamento de Finanças todas as informações geradas pelos softwares que o futebol usa. Para treinar seus jogadores, há um conjunto de soluções italianas e australianas como análise de vídeo, geração de dados por GPS, big data etc. Quando todos esses softwares estiverem conectados ao sistema de gestão (uma solução da gigante alemã SAP, que entrou no futebol para ficar) o clube poderá saber, por exemplo, quanto custa a lesão de um jogador. 

Entre 2014 e 2015, o prejuízo da Liga Inglesa com jogadores lesionados atingiu a absurda cifra de R$ 1,2 bilhão. Outro exemplo é a possibilidade de trabalhar com probabilidades, comparando as curvas de lesão e desempenho, que têm impacto direto no valor de compra e venda de jogadores. Para um Flamengo que reduziu sua dívida (antes, para cada real arrecadado, o clube devia R$ 6; hoje, deve só R$ 1,60), ações como essas, que priorizam a inteligência na gestão, serão a virada para o sucesso financeiro do clube. Além disso, os dados estratégicos rubro-negros já estão armazenados em nuvem, o que garante maior segurança, além de expansão rápida e barata. Outro gol.

Os fãs e os dados

Em 2017, o Flamengo foi o clube brasileiro com maior volume de engajamento nas mídias sociais; só perdeu para Real Madrid e Manchester United.  São 11 milhões de fãs no Facebook, 5 milhões no Twitter, 2 milhões no Instagram e quase 1 milhão no YouTube.  Mesmo considerando que um mesmo fã possa estar presente em todas essas plataformas, são quase 20 milhões de seguidores - 10% da população brasileira. Entre esses apaixonados, alguns pagam e tornam-se sócios-torcedores, um grupo que gera receita de R$ 44 milhões. O Flamengo é 50% carioca: a outra metade de fãs está espalhada por 2.639 cidades brasileiras, o equivalente a 47% dos municípios brasileiros. Não é pouca coisa: o Corinthians, segundo colocado, tem sua capilaridade limitada a 26% dos municípios nacionais.

O desafio agora é utilizar  tecnologia para adensar ainda mais essa massa de torcedores, monetizando a paixão em produtos financeiros que levem o time ao pódio. O sonho é ter seu próprio estádio, conectado, onde os fãs e suas familiares possam passar uma longa tarde acessando serviços de qualidade pelo celular.

Sem dúvida, o Flamengo dá exemplo aos outros clubes cariocas; sua estratégia é correta. Discordo somente de um pilar básico da sua formulação: fala-se muito das restrições do nosso mercado. Por exemplo: biometria é um problema pois "brasileiro não faz fila"; não se fala de estatística, pois "brasileiro não gosta de dados" etc. Um líder não pode se pautar pelas restrições: cabe a ele ser o agente de mudança da sociedade. Não é uma escolha, é o seu papel. Se Steve Jobs pensasse que celular pequeno não cairia no gosto do consumidor, ninguém teria um iPhone. O líder é aquele que muda o comportamento da sociedade, aquele que jamais se deixa apequenar.

Fonte: O Globo

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