terça-feira, 23 de maio de 2017

Rubro-Negro, Vitinho não esconde desejo de jogar no Flamengo.



Viver e jogar futebol na Rússia já foram tormentos na vida de Vitinho. A distância da família e dos amigos, o novo idioma, o frio e um futebol bem diferente do que é jogado no Brasil trouxeram medos ao talentoso e promissor atacante. Isso foi em 2013, quando o CSKA Moscou pagou a multa rescisória de 10 milhões de euros (R$ 31,6 milhões na cotação da época) ao Botafogo.


Aos 19 anos, Vitinho era titular do Alvinegro e estava em clara evolução.


Um cenário muito diferente daquele que encontraria em Moscou. Jogou pouco, não teve destaque e decidiu voltar ao Brasil em janeiro de 2015.

- Foi difícil por estar sozinho, não ter muito o que fazer, uma rotina muito monótona de treinar e voltar para casa. Isso me deixou um pouco triste e em alguns momentos eu não tive sabedoria para administrar - contou.

O atacante foi para o Inter por empréstimo e voltou a estampar manchetes no Brasil. Apesar do rebaixamento do Colorado no Brasileiro do ano passado, até conseguiu se destacar. Os olhos do Flamengo brilharam por ele, que é rubro-negro declarado. Mas acabou voltando à Rússia. Agora, garante que está à vontade.

- Achei uma direção para o que eu quero para o futebol, um significado para a minha vida.

Hoje, aos 23 anos, conseguiu virar protagonista do CSKA. Prova disso foi a última rodada do Campeonato Russo. Vitinho fez dois gols e classificou o time para a fase prévia da próxima edição da Liga dos Campeões.

Confira os principais trechos da entrevista:

Você veio para cá com 19 anos de idade. Sair do Brasil com essa idade é sempre complicado. Para a Rússia, que é um país tão diferente, deve ser ainda mais difícil. Como foi essa adaptação no início?

Foi um pouco difícil, acho que normal para qualquer jovem que sai na esperança de conquistar o mundo, e a Rússia se propôs a me acolher... (a filha mais nova de Vitinho começa a chorar e interrompe a resposta do pai).

E esse choro de criança, família em casa, ajuda a se adaptar?

Com certeza. E um dos fatores que tornou tudo mais difícil no início foi porque eu vim sozinho, vim só com meu empresário. A minha filha (a mais velha) era bem nova, tinha quatro meses. Foi um início difícil, eu me senti no direito de deixar elas lá, não sabia como as coisas funcionavam aqui. A preocupação de ter que ir no médico, de ter que dar as vacinas. E foi difícil por estar sozinho, não ter muito o que fazer, uma rotina muito monótona de treinar e voltar para casa. Isso me deixou um pouco triste e em alguns momentos eu não tive sabedoria para administrar. Hoje, eu tenho uma mente mais aberta, seria diferente, totalmente diferente. Hoje, eu consigo perceber que aqui é uma grande oportunidade para mim, que quando cheguei aqui mudou muito a minha vida financeira. Eu tinha a tranquilidade de poder sustentar a minha família, até porque quando eu saí do Botafogo eu não tinha um salário muito alto. Recebia um bom dinheiro, mas era um pouco apertado para o mês. A Rússia me deu, o CSKA me deu, essa oportunidade. Foi uma experiência boa, pude aprender muita coisa nessa primeira passagem aqui, que me deixam mais fortalecido para poder enfrentá-las.

E nessa volta você de cara sentiu o estilo de jogo russo, que é o extremo oposto do brasileiro? Mas eles gostam de jogar com brasileiro aqui, porque mistura um pouco e sai da monotonia.

Quando eu cheguei aqui, a parte ofensiva do meu time só tinha estrangeiro. Eram, se não me engano, um ou dois russos. Mas nem jogavam tanto. E eles têm esse carinho por estrangeiros, por brasileiros que passaram aqui, o Vagner (Love), o Daniel (Carvalho). O Dudu (Cearense), Ramon. Eu cheguei aqui com eles com enorme esperança no meu talento, no que eu tinha desenvolvido e demonstrado no Brasil. Eles são fascinados pelos brasileiros, pelo futebol brasileiro.

Como você descreveria o estilo do futebol russo?

É um futebol muito competitivo, muito duro, que as equipes se propõem a defender os 90 minutos. São jogos em que você vai ao extremo, ao limite, tem que estar muito preparado fisicamente. Não pode oscilar ou deixa a desejar. Eles estão crescendo no futebol, hoje você pode ver que estão disputando os campeonatos europeus, estão crescendo. Nosso time sempre participa da Champions League. Acho que estão no desenvolvimento do futebol.

Se você pudesse apontar um jogador russo que jogaria num grande clube do mundo, quem seria?

Posso falar do meu time. Na verdade tem mais de um. Que é o Alan Dzagoev, nosso camisa 10. É um meia muito técnico, inteligente, um cara lutador também, que batalha no jogo. Um dos caras que mais percorrem distância nos jogos. E tem também um menino do nosso time que está surgindo agora, que esta na seleção russa. Se não me engano, está com 19 anos. Golovin, vocês vão escutar o nome dele. Esse garoto tem muito futuro e com certeza daqui para frente, se continuar demonstrando o que ele joga, o que ele treina, vai atingir grandes clubes europeus.

Qual a importância de ter uma comunidade brasileira aqui? Como é sua relação com o Mário Fernandes, que já está aqui há bastante tempo e deve ter te ajudado no processo de adaptação?

Muito. Eu cheguei e o Mário estava machucado, no início não tivemos muito contato, ele ficou bastante tempo sem jogar. Mas depois que retornou, em alguns momentos em que eu estava abalado, me deu apoio. Em treinamento, como eles são muito intensos, em alguns momentos tinha dificuldade e ele sempre me incentivou, ajudou. Sempre que podemos estamos juntos. Frequenta minha casa. É muito profissional, muito mesmo, trabalha muito, uma pessoa muito tranquila. Não é muito de falar, mas a gente conversa bastante. É reservado, não reclama de nada. Você olha e vê que é uma referência. Nos damos muito bem, tenho jogado bastante, nos ajudamos. Me ajudou e me ajuda.

Você descreveu um funcionário padrão para qualquer clube ou seleção. Mas o Brasil acaba de perder esse funcionário para a Rússia. Qual foi sua reação quando soube que ele ia se naturalizar russo?

Eu fiquei um pouco surpreso, mas ele deve ter os motivos dele, nunca entrei nesse assunto. Algo tocou o coração dele, se sente confortável, gosta muito daqui, sempre fala. Se puder, disse que fica até parar de jogar. Então, tudo combina. Eu conheço um pouco do passado dele no Brasil, não foi muito legal, e aqui ele encontrou uma direção pra vida dele, se estabilizou, e hoje é um dos principais jogadores da nossa equipe. Ele é nota 8, nota 9, em todas as partidas, desequilibra nos jogos.

Já pensou em enfrentar ele?

Isso pode acontecer e eu trabalho para que isso aconteça, para que um dia eu possa vestir a camisa da seleção brasileira principal, representar meu país em jogos amistosos, campeonatos. É um sonho de menino que vou realizar com certeza. Espero não ter esse confronto com o Mário, porque ele é muito meu amigo e muito duro (risos).

Depois que você saiu do Inter, rolou um papo forte de que você ia jogar em vários clubes brasileiros. Chegaram a dizer que você estava dentro do Flamengo. Flamengo seria complicado porque você tem história com o Botafogo. Você pensou nisso? Houve conversa? Pensa nisso no futuro?

A única coisa que eu tinha concreta era uma conversa que meu pai e meu empresário tiveram com o Flamengo. Foi a única coisa clara que chegou de interesse, surgiram muitos rumores. Diretamente só o Flamengo, logo depois de um jogo que tivemos contra o Flamengo. Num primeiro momento, fiquei um pouco surpreso, até porque o Inter deixou claro em alguns momentos que queria minha permanência lá, só que a gente vivia aquela fase complicada de zona do rebaixamento, uma coisa que afetaria e afetou muito o clube. Eu estava meio dividido pelo que estava acontecendo, mas consegui pensar só no Inter para concluir bem a minha passagem lá. Depois que acabou, muito rumores, mas nada que andou. Estava me preparando para voltar. Chegou um certo momento em que eu nem estava mais pensando em ficar no Brasil, hoje estou aqui, estou feliz, conseguindo alcançar as minhas metas. Achei uma direção para o que eu quero para o futebol, um significado para a minha vida, o que o futebol representa para mim. Hoje é aqui, estou muito feliz. Tenho sonho de jogar em grandes equipes do futebol europeu, dar um passo de cada vez, me tornar referência no CSKA, ter bons momentos como tive no Inter, para que seja mais fácil realizar.

Voltar para o Brasil agora então seria um retrocesso? A ideia é ficar aqui e partir para um grande clube na Europa?

São oportunidades. Quando um clube vem em busca de me contratar, imagino uma oportunidade para mim, avalio as melhores maneiras, o que pode trazer de bom e ruim. É sempre importante ter essas propostas, mostra que o trabalho está sendo reconhecido. Se algum dia aparecer, vou pensar no que é melhor. Se for interessante, que possa trazer benefícios para o que sonho, vou aceitar. Isso não diferencia aqui ou o Brasil. Depende muito do que você mostra no campo.

Seu passado no Botafogo não seria problema para jogar no Flamengo?

Não, lógico que não. São questões de oportunidade. Sou muito grato pelo que o Botafogo fez por mim, a oportunidade que me deu, retribuí enquanto estive lá, ajudei bastante. Alguns motivos da saída foram um pouco chatos, mas coisas do futebol. O Botafogo foi muito bem remunerado pela minha saída, não sei se houve algum outro jogador que foi vendido pelo Botafogo mais caro do que eu. Foi bom para o Botafogo, recebeu boa quantia, também tive a chance de vir para a Europa, o que acontece daqui para frente são coisas que têm que acontecer. Vou ter sempre o mesmo carinho pelo Botafogo, surgi lá, tive oportunidades. Vou ser sempre um parceiro.

Nota: dos R$ 31,6 milhões pagos pelo CSKA para contratar Vitinho por cinco anos, o Botafogo teve direito a 60% do valor (R$ 18,6 milhões). Os outros 40% pertenciam ao Audax.

Na época em que o Flamengo te procurou você não escondeu que é torcedor do clube. Como isso repercutiu entre rubro-negros e alvinegros nas redes sociais?

Não podia esconder. Desde que me entendo por gente, brincar de futebol, meu pai sempre me levou nos jogos do Flamengo. Fui muito na geral do Maracanã torcer para o Flamengo. Cresci vendo o Flamengo jogar, meu pai me levava para a Gávea para ver os jogadores. Eu sou flamenguista, independentemente de ter jogado no Botafogo. Fiz gol no Flamengo, comemorei. Foi meu primeiro gol com a minha filha para nascer. Foi um dos gols mais importantes da minha carreira até agora. Mas isso é indiferente. Eu joguei no Botafogo, mas o Flamengo é um adversário. Isso não muda nunca. A gente guarda o carinho, até por conhecer as pessoas que trabalham nesses clubes, mas a vida segue.

Você terminou o Campeonato Russo como grande destaque do CSKA e fez dois gols importantes para classificar o time para Liga dos Campeões. Foi o encerramento perfeito?

Nosso objetivo era alcançar o Spartak para tentar ser campeão, mas ficou muito distante. Mas determinamos manter a segunda posição para poder disputar essa fase preliminar da próxima Liga dos Campeões. O time está de parabéns, fico feliz de ter ajudado com gols e assistências. Vou para casa curtir as férias feliz e tranquilo.

Fonte: Globo Esporte

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