quarta-feira, 10 de maio de 2017

"Agradeço oportunidade de ver a torcida do Flamengo", diz Bielsa.



A CBF realizou o simpósio que o Brasil necessitava depois dos 7 x 1. Se seria positivo ter Josep Guardiola, Carlo Ancelotti e José Mourinho, nada desprezível foi o elenco montado para a segunda semana de evolução do futebol brasileiro, como se chama o evento, que terá palestras sobre negócios, marketing, com gente da Premier League, do Arsenal, e que no primeiro dia contou com Tite, Fabio Capello, Carlos Alberto Parreira e Marcelo Bielsa.


Tite abriu o trabalho com uma ilustração brilhante sobre as relações entre técnicos com dirigentes, jogadores, jornalistas, sobre o ator principal do futebol, o atleta, e ilustrações geniais sobre marcação por pressão no campo de ataque, no meio-de-campo e na frente da grande área defensiva.

Fabio Capello evitou falar de tática e correu o risco de parecer o mais boleiro dos três, ao tratar de autoridade e simplificar o sistema com três zagueiros. Explicou também como fazia o treinamento para linha de impedimento. Mas tratou muito bem das relações necessárias para aprender como se trabalhar em cada país. A cultura de cada lugar é fundamental.

Marcelo Bielsa é um espetáculo à parte. A começar pela maneira como chegou à sede da CBF. Enquanto a maioria estava de blazer, Bielsa chegou de roupa esportiva. Foi caminhando do hotel até a sede da CBF, um percurso de 3,4 km, percorrido em aproximadamente 43 minutos. Contou sobre o garoto Gabriel, porto-alegrense a quem conheceu e com quem troca informações sobre futebol, no Brasil. Sobre o Maracanã, onde jamais havia estado e visitou no domingo à tarde, para o Fla-Flu.

''A razão de ser do futebol é o torcedor. O que acontece no campo mexe com seu corpo'', Bielsa diz.


Foto: Screenshot / Twitter
''Nunca tinha estado no Maracanã e agradeço a oportunidade de observar a torcida do Flamengo e, no espaço onde eu estava, três garotos com a camisa do Fluminense. Apreciar a convivência me emocionou.''

Discorreu sobre os sistemas táticos sem citar o 4-4-2 nem o 4-2-3-1, mas mostrando suas variações em linhas de três ou de quatro, defensivamente. O xis da questão de sua conversa sobre futebol é o jogador e a paixão. E a polivalência. A razão de seu jogo são as mudanças de sistema com os mesmos jogadores e, para isto, a capacidade dos jogadores executarem duas ou três funções. 

''Me impressiona como todos os jogadores da seleção brasileira podem fazer duas funções, exceto os laterais'', disse.

''Nas divisões de base, não se deve ter uma escola de um clube que faça todas as categorias jogarem com um mesmo sistema. O ideal é cada jogador passar um ano atuando em um sistema diferente. Ou mudar de sistema a cada dois meses, para que todos possam ter cultura tática.''

Bielsa é a terceira escola argentina. Dividida entre os menottistas e os bilardistas, os argentinos duelaram durante anos entre os apreciadores do futebol arte e de resultados. O embate Menotti x Bilardo por lá significa um pouco o que, para nós, é ganhar como em 1994 ou perder como em 1982.

Bielsa é o misto, a terceira via.

''Sou um apreciador de Menotti, do que ele significa para mim. Ele costuma dizer que cada coisa deve estar em seu lugar. A cozinha na cozinha, o banheiro no banheiro. Isto é exatamente o oposto do que penso. Pensar diferente de um mestre é realmente muito perigoso, mostra que sua chance de estar errado é muito grande. Exige também respeito pela discordância.''

Lembre-se de que Guardiola, antes de dirigir o Barcelona, usou como base conversas longas com dois mestres argentinos: Marcelo Bielsa e Cesar Luis Menotti.

Não se sai da palestra de Bielsa com a certeza de que ele é um modelo para vencer no futebol. Ele mesmo diz que venceu pouco. É verdade. Digamos que Bielsa seja mais do que isso: um exemplo de paixão pelo futebol. E de firmeza nos princípios que defende. 

Fonte: Blog do PVC

Nenhum comentário:

Postar um comentário