domingo, 28 de fevereiro de 2016

Jornal O Globo: Flamengo teve 50 ofertas de jogadores estrangeiros.



A história recente indica um nível baixo de êxito na contratação de estrangeiros por clubes brasileiros. Contam-se nos dedos os casos de jogadores trazidos ao país com sucesso técnico e, em seguida, vendidos por altos valores. O discreto retorno ao mercado sul-americano tem sido o destino mais comum após a passagem pelo Brasil. Mesmo assim, a exportação desenfreada de jogadores e a falta de competitividade do real frente a dólar e euro tornaram a América do Sul um dos últimos refúgios de poderio econômico dos clubes do país. A viabilidade financeira é a maior incentivadora da importação.

APOSTA EM INTELIGÊNCIA

O investimento em pesquisa tenta reduzir a margem de risco. E já há clubes do lado oposto ao da informalidade. O diretor executivo do Flamengo, Rodrigo Caetano, garante que Cuéllar e Mancuello, apostas da atual janela de transferências, não chegaram por ofertas de agentes. Oito funcionários trabalham na coleta de dados de jogadores no setor de inteligência do clube. As estrelas do processo são dois softwares comprados pelo clube, desenvolvidos para munir de informações os responsáveis por ir ao mercado: o Iscout e o Sportcoach. Cerca de 24 horas após cada jogo, disponibilizam estatísticas e imagens de partidas ao redor do mundo. Além de permitirem a observação de situações de jogo específicas: duelos no um contra um ou jogadas de linha de fundo, por exemplo.

— Tivemos 50 ofertas de agentes. Mas fomos buscar jogadores que identificamos. Além das ferramentas de busca, assistimos in loco. O risco ao escolher estrangeiros, no nosso caso, foi menor. Os atletas viáveis para negociar no Brasil são mais desconhecidos ou de padrão técnico inferior. O que, aí sim, aumentaria o risco — afirma Caetano.

Mas, mesmo na elite do futebol nacional, ainda há quem se veja limitado ao método de tentativa e erro. No Botafogo, Ricardo Gomes recebeu Lizio, Joel Carli e Gervasio Núñez, além do atacante Salgueiro, este não tão obscuro. Os três primeiros, admite que não conhecia antes de as negociações começarem. Sem dinheiro para a aquisição de sistemas avançados de observação, reconhece que a incerteza é grande.

— O certo é selecionar o jogador e ir observar, viajar. Mas custa dinheiro. O Botafogo não tem US$ 20 mil para ir olhar um jogador. Ainda mais para, eventualmente, olhar e não contratar. O normal é um em cinco ter sucesso. Não tem craque aqui. Nem nos países deles eram reconhecidos assim — revela o técnico. — Até vi jogos inteiros, mas alguns em campeonatos de nível técnico baixo.

Lizio, por exemplo, atuava na Bolívia. Outra realidade. Ricardo Gomes alerta que, na média, a importação brasileira não inclui jogadores de ponta. Quem atua no mercado lhe dá razão.

— O jogador brasileiro sai por razões técnicas: vai melhorar o nível de campeonatos e times. Os sul-americanos têm vindo para cá apenas por razões econômicas. Em geral, não são melhores do que os daqui. O jogador top não passa pelo Brasil. Vai direto para a Europa — reconhece o empresário Eduardo Uram. — Tenho visto contatos entre agentes e clubes para oferecer jogadores. Não há rede de observação. E o índice de erro é muito grande. Muitos contratam para causar impacto.

Fonte: O Globo
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