Não será nada fácil acompanhar o jogo mais importante do Grêmio no ano.
Na verdade, seria bem mais confortável estar na posição de admirador do bom futebol e saborear o desempenho de dois times que adoram jogar bola. Mas não é o meu caso.
O Grêmio e o Renato sabem muito bem o tamanho da pedreira que se impõe pela frente. Ela é gigante. O problema não é só o elenco rubro-negro. Além do plantel superior, a fase é melhor e Jorge Jesus iluminou o vestiário. Não tem jogador em baixa. As doses de disciplina e trabalho fizeram muito bem. Os resultados cansam de provar isso.
Do meu lado, o gaúcho, o cenário não é exatamente o oposto, mas o time vive outro momento. A derrota para o Bahia, faltando uma semana para o embate histórico, falou alto sobre o tricolor que chegou ao Rio disposto a calar o Maracanã.
O time titular do Grêmio foi dominado por uma equipe que joga para frente, como o Flamengo. Faltaram pernas, o que danificou a troca de passes, e imposição tática. Renato abusou das injustiças ao dizer que a equipe de Roger jogou na defensiva. Parecia o Renato instável, aquele treinador só coração e pouca atenção de início de carreira.
Para tornar tudo mais difícil, o Grêmio entrará num Maracanã enlouquecido com a articulação improvisada no ataque: Luan está fora, e Jean Pyerre volta de lesão séria na coxa. Se entrar, não vai acompanhar o ritmo do jogo. Provavelmente, Renato estará obrigado a improvisar. Improvisar logo contra o Flamengo. Ai, Jesus!
Pode vir mais defensivo, o que não seria ilógico. Mas o Grêmio de Renato se dá mal na defensiva. Fica desconfortável. Os jogadores desse time campeão se habituaram a fazer o adversário correr. Correr atrás da bola não é o forte. O primeiro tempo do jogo de ida, na Arena, mostrou bem isso.
Mas o Grêmio é o Grêmio. E, sem misticismo algum, cabe ao Flamengo ficar atento ao imponderável.
São inúmeros os casos de glórias insólitas. Pode-se falar da epopeia de 1983, quando o Mazaropi pegou um pênalti do América de Cali, a poucos minutos do apito final, e levou o Grêmio à frente na Libertadores. Dá para se lembrar da Batalha dos Aflitos, em 2005, com a defesa salvadora de Galatto aos 60 minutos do segundo tempo. Do incrível jogo contra o Palmeiras, nas quartas, este ano. Ou da final da Copa do Brasil, no Maraca, 1997, contra o mesmo Flamengo.
O Grêmio é copeiro. Se reinventa e surpreende. Mais mata do que morre.
Ainda assim, a batalha contra o Flamengo de Jesus testará, de forma definitiva, a imortalidade. O rubro-negro é tão bom que até dá vontade de vê-lo ganhar tudo. Mas a paixão não me permite.
Fonte: Roberto Maltchik / O Globo
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