Como tantos nomes do futebol brasileiro nos últimos anos, Ari saiu cedo do país para jogar na Europa. Talvez até cedo demais. Não que ele tenha algum arrependimento em relação à sua trajetória, cujos destaques foram uma artilharia em seu primeiro ano na Suécia, um título holandês e até um convite para se naturalizar russo e assim participar da próxima Copa do Mundo.
Mas aos 30 anos, Ari entende que há ainda há objetivos a serem vividos em solo brasileiro. Talvez no Fortaleza, clube que o revelou e onde conquistou um título do Campeonato Cearense, antes se mudar para o Velho Continente há 11 anos. Ou então, talvez no clube de seu coração e que permeia seus sonhos desde menino: o Flamengo.
Seu primeiro ano fora do Brasil foi, sem dúvida, o mais difícil. Além do choque cultural, a adaptação ao clima frio de Kalmar, cidade sueca onde Ari desembarcou para jogar no clube da cidade, também foi complicada. E apesar de todas as dificuldades, já em seu primeiro ano conquistou a artilharia do Allsvenskan, o Campeonato Sueco.
“Quando eu estive na Suécia, acho que foi uma das fases mais difíceis, mas também a fase mais rápida de adaptação. Quando eu cheguei, eu lembro que eu peguei -18°C, pela primeira vez saindo do calor de Fortaleza. Foi complicado. Fora a língua, que eu não entendia nada. Em relação à adaptação, eu acho que foi rápida, porque no primeiro ano da Suécia, ser artilheiro do campeonato, acho que não são muitos jogadores que conseguiriam isso. Com todas as dificuldades que eu tive, consegui me recuperar e já no primeiro ano ter grande destaque”, disse ele.
Naturalmente, as ótimas atuações do jogador na Suécia o levaram a uma liga mais forte: a Eredivisie. Na Holanda, Ari teve um pouco mais dificuldade em conseguir um lugar no time titular, devido ao grupo forte do AZ Alkmaar. Ainda assim, o atacante brasileiro conseguiu seu espaço graças ao apoio recebido por aquele que ele considera o melhor treinador com quem já trabalho, o holandês Louis Van Gaal.
“Eu fiquei muito feliz por ter sido contratado a pedido do Louis Van Gaal, que na época era o treinador. Quando eu cheguei, vi que tinham muitos jogadores de seleções, Bélgica, Marrocos, Holanda… Para mim, aquilo ali estava sendo fantástico. Sabia que o começo ia ser complicado, mas o Van Gaal me deu muito apoio, me deu muita confiança . Não joguei logo de cara, mas fui conseguindo meu espaço, tanto que já no segundo ano, em que fomos campeões, eu joguei muitas partidas. Foi maravilhoso, três anos de experiência muito boa, por ter tido um treinador como ele, e ter conquistado o título holandês”, destacou.
Mas foi na Rússia onde Ari fincou suas raízes. E lá, em 2011, ainda jogando pelo Spartak Moscou, o jogador cearense voltou a ser notícia no Brasil. O motivo? O gol que ele considera ser o mais bonito de sua carreira: recebeu a bola e saiu em velocidade, driblou o goleiro e tocou por cobertura para o fundo da rede. O gol que Pelé não fez.
“Devem ter outros gols bonitos também, mas esse, por ter criado uma repercussão grande, ‘o gol que Pelé não fez’, ter driblado o goleiro e ter virado para o gol, depois ter coberto o goleiro. Acho que foi o mais lindo”, avalia Ari.
Desde 2013, Ari atua no Krasnodar, clube jovem, fundado apenas em 2008, mas que já acumula bons resultados no Campeonato Russo e também no continente. Na última edição da Liga Europa, por exemplo, o time se classificou para as oitavas de final com o primeiro lugar do Grupo C, à frente do favorito Borussia Dortmund. Tudo graças a ótima estrutura que fez com que Ari fechasse seu primeiro contrato com o clube e permitisse que ali atingisse um nível alto, capaz de chamar a atenção da Seleção Russa.
“Eu tive a grande felicidade de ser convidado para me naturalizar russo. Um convite do Fabio Capello, que na época era o treinador. Dei entrada na documentação, mas quando ele foi dispensado, duas semanas mais tarde, essa documentação foi parada. Estou até esperando esse novo treinador [Leonid Slutsky], se vão me chamar novamente para naturalizar. Mas em relação a isso estou bem tranquilo, mais focado no meu clube, nas competições que estou disputando, acho que tudo isso é uma consequência do trabalho, acho que com um bom trabalho, as coisas irão acontecer na hora”, disse o jogador, que ainda sonha em disputar a Copa do Mundo.
“Eu desde pequeno tenho o sonho de jogar na seleção, e depois com o passar dos anos aqui na Rússia, fui criando essa expectativa de querer me naturalizar russo, depois que eu completei cinco anos aqui no país. Mas eu não queria ser chamado para jogar na Seleção Russa por ter um passaporte, queria ser chamado por estar mostrando um bom futebol, estar mostrando um bom trabalho. É um objetivo, vou continuar trabalhando pra isso, e se for da vontade de Deus, vai dar tudo certo”, acrescentou.
É no Krasnodar que Ari pretende dar continuidade ao bom trabalho que está fazendo. O jogador de 30 anos renovou seu contrato com o clube por mais três anos e pretende cumpri-los. Mas ele também não esconde o desejo de voltar ao Brasil para encerrar sua carreira e, quem sabe, realizar o sonho de menino de Ariclenes da Silva Ferreira.
“Eu não sei em que ano eu posso voltar, mas sem dúvidas eu quero encerrar a carreira no Brasil, na minha cidade. Mas eu tenho o grande sonho também, desde garoto, de jogar no Flamengo. Sempre deixei claro que é o meu time de coração. Acho que até agora, se eu tivesse a oportunidade de jogar pelo Flamengo por seis meses, um ano, depois retornar à Europa, eu acho que eu encararia, realizaria meu sonho”, finalizou.
Fonte: Livia Muniz / Goal