Na semana passada, uma assembleia administrativa da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu dar mais peso aos votos das federações nas eleições da entidade e incluir os 20 clubes da Série B do Brasileirão nas eleições da entidade. Antes desta reunião, somente os 20 clubes da Série A e as 27 federações estaduais tinham direito a voto. Com as mudanças, os clubes passaram a ter maioria numérica, com um porém: com o maior peso atribuído às federações, na prática, os clubes unidos são minoria e as federações seguem com 57,5% de participação.
Em entrevista ao Site Oficial, o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, avaliou a mudança e afirmou que a manobra não respeita o artigo 22-A da Lei Pelé, modificado pela lei do PROFUT, que dá direito aos filiados da Confederação a presença e voto em todas as assembleias e não só as eleitorais.
"Ficou definido pela CBF que nas eleições haverá uma ponderação de votos que darão peso 3 às federações, peso 2 aos clubes da Série A e peso 1 aos clubes da Série B. Como eu participei da formulação da discussão e da aprovação da lei do PROFUT, sou testemunha de que o espírito da lei não é esse. Entendo que a maneira mais democrática de se estabelecer o poder nas federações e na CBF seria dar o justo poder aos clubes que representam os torcedores. O Walter Feldman (secretário-geral da CBF) é meu amigo, tenho o maior respeito por ele, pela história dele, sempre esteve ligado a políticos respeitáveis, mas agora sinceramente não estou entendendo como se considera democrático dar poder a entidades que representam muitas vezes ligas inexpressivas, clubes de fachada... e os clubes que efetivamente representam a população, a torcida, ficarem relegados a uma posição subalterna e sem nenhum poder de interferir nas decisões da Confederação", disse o mandatário rubro-negro. Mesmo com o acréscimo dos times da segunda divisão, os clubes brasileiros seguem com a mesma representatividade que tinham antes, de 42,5%.
Para Bandeira de Mello, a reunião sem convocar e sequer informar os clubes foi um erro que se choca com um movimento progressista bastante positivo que vinha acontecendo na CBF.
"Essas federações de certa maneira controlam boa parte do poder na CBF. Eu diria que, apesar de algumas federações terem se modernizado e instituído mecanismos democráticos de gestão, muitas delas ainda representam a face mais atrasada da Confederação. A CBF tem até alguns movimentos interessantes e modernizantes, como licenciamento, busca por transparência, implantação do sistema de governança corporativa, código de ética, tudo isso é positivo e acho até que tem que ser enaltecido. Mas o que existe de atrasado na CBF é justamente essa dependência, essa vinculação com algumas federações. Porque essas federações não representam os clubes dos seus estados, ou representam muito pouco. A estrutura de poder das federações, como inclusive tentamos mudar quando na formulação do projeto do PROFUT e estamos tentando mudar na lei geral do esporte, consagra o poder dos clubes de fachada, de ligas do interior, em detrimento dos clubes que de fato representam os torcedores. No Rio de Janeiro, por exemplo, os quatro clubes que congregam praticamente 100% da torcida, juntos, não têm nem 10% da assembleia que elege os dirigentes da FERJ. Imagino que isso se reproduza em boa parte dos estados brasileiros. As pessoas que se beneficiam dessa estrutura de poder têm interesse em que esse modelo seja perpetuado", lamenta o presidente, que conta que ficou sabendo da assembleia com as federações estaduais pela imprensa.
"Não fui avisado da reunião, fiquei sabendo pela imprensa. Eles se baseiam em uma interpretação da lei do PROFUT de que os clubes só precisam participar das assembleias eletivas. Que não precisariam participar das assembleias administrativas. Esta última foi uma assembleia administrativa que mudou a forma pela qual é feita a eleição da CBF. Essa interpretação eu considero equivocada, não só eu como quase totalidade dos advogados dos clubes brasileiros", afirmou Bandeira de Mello, para depois apresentar um caminho para reversão do processo.
"Eu defendo que o Governo Federal, o Ministério do Esporte, a Casa Civil, a Presidência da República, edite um decreto, para regulamentar e estabelecer de uma vez por todas a forma pela qual se interpreta a lei. Já está sendo articulada uma reunião de clubes para que a gente possa debater sobre o assunto. E nesse debate pode surgir alguma linha de ação, que pode ser a busca do diálogo com a própria CBF, que pode ser um diálogo dentro do Congresso Nacional para que os parlamentares se manifestem... Afinal de contas, na minha interpretação, o que eles definiram quando formularam a lei do PROFUT foi desvirtuado. Nessa reunião dos clubes, que não tem uma pauta definida, poderemos discutir o assunto e tentar encaminhar a melhor forma de tratar a questão", finalizou.
Fonte: Site Oficial do Flamengo
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