Como é comum, principalmente na América do Sul, jogadores que saíram cedo dos seus países, atrás de dinheiro e fama na Europa, costumam encerrar carreira onde surgiram para o futebol.
Não necessariamente nos clubes que deram a primeira chance.
Exemplos não faltam ao longo da história. Sócrates, Flamengo. Leivinha, São Paulo. Ronaldinho Gaúcho, Fluminense. Falcão, São Paulo. Enéas, Palmeiras.
Luís Pereira, Flamengo.
Ronaldo, Corinthians. Renato Gaúcho, Flamengo.
Rivaldo, São Paulo.
Daniel Alves, São Paulo.
Filipe Luís, Flamengo e Rafinha, Flamengo.
Romário, Flamengo.
Foto: Divulgação
Quando o jogador retorna ao clube que o lançou para o futebol, o lado emocional costuma ser muito explorado.
O torcedor o venera para sempre.
Como Zico e Júnior, no Flamengo. Roberto Dinamite, Vasco. Robinho, Santos. Marcelinho Carioca, Corinthians. Kaká, São Paulo.
É difícil manter essa fidelidade, cultivar um retorno sem data, depois da aventura no exterior.
O caso mais bipolar do futebol brasileiro é de Neymar.
O jogador saiu de maneira muito estranha do Santos.
O atacante mais talentoso, depois de Pelé, foi vendido para o Barcelona, em 2013.
No total, 27 milhões de euros, atuais R$ 155 milhões.
Foram R$ 17,1 milhões de euros pelo jogador.
Mais 7,9 milhões de euros pela preferência por Gabigol, Giva e Victor Andrade. Mais 2 milhões de euros em caso de Neymar ficar entre os três melhores do mundo. E ele foi, em 2017. O terceiro.
O impasse está no fato de o jogador ter recebido bem mais que o clube.
Recebeu 58 milhões de euros, atuais R$ 337,2 milhões.
O dinheiro foi distribuído da seguinte maneira: 40 milhões da venda, 10 milhões de luvas, quatro milhões em direitos de imagem, dois milhões para a N&N monitorar promessas do Santos e uma doação de 2,5 milhões ao Instituto Projeto Neymar Jr.
Dirigentes do Santos se sentiram lesados quando os valores foram vazados pela imprensa. E entraram com processo, em 2015, contra o jogador e seu pai e empresário.
"Em 31 de maio de 2013, o Santos e os acima citados firmaram um contrato de transferência de cessão de direitos econômicos, por 17,1 milhões de euros, mais uma parcela de 2 milhões de euros, caso o jogador venha a ser finalista do prêmio Fifa de melhor do mundo."
"No entanto, face à investigação na Espanha, o Santos tomou conhecimento que os valores ascendiam a quantia de 83,371 milhões de euros."
"O contrato de transferência dispunha que qualquer disputa controvérsia ou pleito se resolveria na Câmara de Resolução de Disputas da Fifa, cuja decisão será suscetível ao tribunal do esporte."
"O Santos considera que o Barcelona, o Neymar e a empresa dele cometeram violações do contrato de transferência e reclama uma indenização dos prejuízos, mais juros", resumiu o então presidente santista Modesto Roma.
A ação chegou à Fifa, que deu ganho de causa a Neymar. O Santos recorreu ao Tribunal Arbitral do Esporte, na Suíça.
Ao contrário de presidentes anteriores, o atual, José Carlos Peres, buscou a reaproximação do atacante do PSG.
Desejava ser o responsável por amarrar um laço emocional, que garantisse o retorno do jogador ao clube, quando quisesse voltar a jogar no Brasil.
Na semana passada, Neymar parabenizou o Santos pelo aniversário de 108 anos.
"É um orgulho que nem todos podem ter", escreveu.
"Meu menino da Vila! Muito obrigado", respondeu o perfil oficial do clube.
Mas o clima de amor eterno foi implodido pelo dinheiro.
José Carlos Peres confessou que continuará precessando Neymar e seu pai, para receber mais por sua venda ao Barcelona.
"Penso que não se pode processar um ídolo. Foi feito pela gestão anterior, perdemos em 2018 essa ação, recorremos, até porque respondemos ao Conselho Deliberativo. Está para sair (a decisão)."
"A corte (na Suíça) diz que vai resolver em um mês, aí vem uma carta e adia, e agora com essa crise (causada pelo coronavírus) fica ainda mais difícil de resolver."
"Queremos boa relação com Neymar, processo não é contra ele, é Barcelona. Mas ambos fazem parte e somos obrigados a prosseguir. Esperamos resolução rápida porque nossa relação com o Neymar está boa, frequenta as mídias do clube."
"É Menino da Vila, valioso, e não podemos abdicar dele."
Com a confirmação que o Santos seguirá processando Neymar, dada à Bandsports, Peres afasta o jogador da Vila Belmiro.
Ele e seu pai seguem muito magoados com esse processo. Garantem que não enganaram ninguém, só negociaram os seus valores e o Santos os deles.
A decepção com a confirmação de Peres, que a briga na Justiça continua, é uma estocada no atacante, que havia acabado de festejar o aniversário do clube.
Com isso, crescem as chances de outro clube ter Neymar, quando ele decidir voltar ao futebol brasileiro.
O Flamengo.
Ele se mostra cada vez mais seduzido com a força da torcida e, agora, com a infraestrutura do clube carioca.
De sua mansão em Mangaratiba até o Ninho do Urubu, CT do Flamengo, são 40 minutos, usando seu moderno helicóptero.
O Palmeiras também sonha com Neymar. Principalmente se Leila Pereira for a presidente do clube, quando ele decidir voltar. A relação dela com o pai de Neymar é de muita amizade. O presidente Galiotte também é próximo de Neymar Sênior, intermediário da contratação de Lucas Lima.
O presidente Andrés Sanchez já tentou levar Neymar ao Corinthians por empréstimo, antes dele ir para o Barcelona. O dirigente também se diz amigo do pai do atacante. E, se ainda tiver o controle político do clube quando Neymar decidir voltar ao Brasil, Andrés tentará o atleta.
E reviver o que fez com Ronaldo Fenômeno.
Mas, enquanto os clubes sonham, Neymar planeja uma maneira de retornar ao Barcelona, assim que for estabelecida a nova janela de transferências.
Brasil?
Não nos próximos quatro anos, no mínimo.
Neymar tem 28 anos...
Fonte: Cosme Rimoli
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