Escanteio batido no meio da grande área, o zagueiro Pedro Henrique sobe e mete a cabeça na bola, que quica na frente do goleiro do Sport e encontra a rede.
O terceiro gol do Corinthians em seu estádio fechou o melhor primeiro turno da história dos pontos corridos – implementados no futebol brasileiro a partir de 2003.
E confirmou um paradoxo. Imbatível no aspecto esportivo, o que popularmente sugere uma boa gestão, o clube paulista contabiliza números negativos fora de campo. Uma das duas. Ou terá de vender atletas para equilibrar as finanças, ou terá problemas com o limite de prejuízo imposto pelo Profut. Flamengo e Palmeiras estão em situação quase inversa. A frustração gerada pela eliminação na Copa Libertadores, vivida por ambos, dá toda pinta de que as gestões são ruins. Mas as finanças apontam para futuros mais promissores.
O Corinthians arrecadou R$ 140 milhões no primeiro semestre de 2017. Praticamente a metade do que somaram os adversários diretos Flamengo, com R$ 278 milhões, e Palmeiras, cujo faturamento chegou a R$ 272 milhões, os mais ricos da atualidade. Os dados foram extraídos de balanços financeiros parciais e padronizados por ÉPOCA para a comparação. Tamanha desvantagem não existia anos atrás. Pelo contrário. Os corintianos eram superiores a flamenguistas e palmeirenses financeiramente, sobretudo no período em que venceram a Copa Libertadores e o Mundial de Clubes, em 2012, quando arrecadaram R$ 342 milhões numa temporada só. Os rivais naquele ano tiveram faturamentos de R$ 212 milhões rubro-negros e R$ 183 milhões alviverdes. O futebol mudou muito em cinco anos.
O estádio é o primeiro fator a explicar a inversão de valores. O Corinthians dedica toda sua receita com bilheterias para a dívida da Arena Corinthians, então fatura um rigoroso zero nessa linha, enquanto o Flamengo conseguiu R$ 30 milhões com a Ilha do Urubu e o Palmeiras arrecadou R$ 42 milhões com o Allianz Parque. As vendas de atletas são a segunda razão. O Corinthians conseguiu R$ 8,4 milhões líquidos no primeiro semestre, após descontados percentuais de intermediários. O Flamengo teve R$ 48 milhões líquidos, e isso só inclui a primeira das três parcelas da venda histórica de Vinicius Júnior ao Real Madrid. No segundo semestre os cariocas receberão uma segunda parcela de R$ 53 milhões, o que fará a diferença aumentar ainda mais até o fim desta temporada.
O pior para os corintianos é que, além do tombo nas receitas, o clube continua a ter déficit – quando o faturamento é insuficiente para arcar com as despesas. O Corinthians levou prejuízo de R$ 35 milhões no primeiro semestre, enquanto o Flamengo lucrou R$ 62,5 milhões e o Palmeiras, R$ 33 milhões. Não se trata aqui de uma mera lista em que uns ficam para cima e outro fica para baixo. O déficit alvinegro tem duas consequências negativas para o futuro do clube. A primeira é que, como a conta não fecha, aumenta a necessidade de vender atletas. Isso pode prejudicar o incontestável aproveitamento do primeiro turno em campo. A segunda é que o Profut, renegociação de dívidas fiscais que impôs uma série de regras para a gestão dos clubes, proíbe déficits superiores a 10% da receita bruta registrada no ano anterior. No caso do Corinthians o prejuízo não pode passar de R$ 48,5 milhões. O primeiro semestre revela que o risco é real.
A boa notícia para o Corinthians é que ao menos seu endividamento foi reduzido. Mais do que isso. O perfil melhorou. A direção alvinegra usou parte da grana que entrou no caixa para pagar empréstimos tomados com bancos. Se em 31 de dezembro de 2016 o clube tinha R$ 53 milhões devidos a instituições financeiras, em 30 de junho de 2017 esse valor foi cortado para R$ 19 milhões. Isso alivia os juros que são cobrados do clube por banqueiros. Os outros tipos de dívida subiram. A equipe hoje deve mais ao governo, a ex-funcionários e a credores diversos, como clubes de quem comprou atletas, do que devia no fim do ano passado. De qualquer modo a diminuição da dívida bancária fez com que o endividamento corintiano melhorasse como um todo.
O mesmo movimento fez o Palmeiras. O presidente Maurício Galiotte pagou mais uma quantia considerável ao ex-presidente Paulo Nobre, que personaliza a "dívida bancária" alviverde, e o montante em aberto desceu de R$ 125 milhões para R$ 55 milhões. O cartola quer, como revelou em entrevista a ÉPOCA, zerar esse número até o fim de sua administração em dezembro de 2018. Algo plenamente possível se os números atuais forem mantidos até lá. Já as dívidas com credores diversos mais do que dobraram. Isso não é um problema porque a maior parte dos "títulos a pagar", como dizem os balancetes do clube, está vinculada a jogadores que a direção contratou na temporada de 2017 e vai pagar parceladamente. São dívidas criadas a partir de investimentos, não de atrasos em impostos ou outra irresponsabilidade do tipo. Há dívidas e dívidas.
O Flamengo, com uma condição mais grave em relação ao seu endividamento, foi na mesma linha que os adversários. Aproveitou o dinheiro excedente do primeiro semestre para pagar dívidas bancárias, reduzidas de R$ 112 milhões ao fim de 2016 para R$ 91 milhões no fechamento do primeiro semestre de 2017. Além disso o futuro rubro-negro é o mais promissor. ÉPOCA considerou, para que a comparação entre os semestres dos rivais esteja correta, apenas os valores que entraram em caixa no decorrer dos seis primeiros meses do ano. O caso rubro-negro é especial por causa de Vinicius Júnior. O Real Madrid decidiu pagar os quase R$ 150 milhões da transação em três parcelas: a primeira logo em maio, a segunda em julho e a terceira apenas em 2019. Isso garante um acréscimo de R$ 53 milhões no faturamento rubro-negro de 2017, referentes à segunda parcela, inclusive já depositada pelos espanhóis. Tudo indica que o Flamengo fará meio bilhão de reais em receitas nesta temporada.
Fonte: Epoca EC
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