terça-feira, 4 de outubro de 2016

O que falta para o Fla voltar ao Maracanã – e, talvez, assumir o estádio em 2017


O clube negocia com a Odebrecht para assumir os custos da arena, enquanto uma nova licitação é desenhada pelo estado. Enquanto isso, conversa com o governo, o rival Fluminense e empresas para viabilizar a entrada na nova concessão no ano que vem.


O retorno do Flamengo ao Maracanã é fundamental para o clube em duas visões, uma de curto prazo, outra de médio. Até o fim desta temporada, o time tem a ganhar nos aspectos esportivo – vice-líder do Campeonato Brasileiro, precisa do fator “casa” para continuar a vencer – e financeiro, uma vez que, a julgar pelas mobilizações de flamenguistas em aeroportos, a torcida rubro-negra deve lotar as arquibancadas e gerar uma boa renda. A partir de 2017, o clube, campeão ou não, vai precisar do estádio para montar um planejamento mais sólido e ganhar, de novo, em performance e renda, inclusive com o programa de sócios torcedores, dependente de um estádio fixo e próximo da torcida para decolar. O que falta para que o Flamengo volte, e possivelmente assuma, ao Maracanã?

No curto prazo, o Flamengo depende de um aditivo em seu contrato com a acuada Odebrecht. Aqui precisamos de contexto. A empreiteira faria dinheiro com o entorno do Maracanã, mas o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) cancelou as demolições do Parque Aquático Julio de Lamare e do Estádio de Atletismo Célio de Barros em meio às manifestações populares de 2013. O peemedebista quebrou as regras, a construtora alegou desequilíbrio e passou a renegociar o contrato. A Odebrecht queria vender a concessão para uma outra empresa, que jogaria dentro das regras impostas na licitação, mas enfrentou a resistência do Flamengo, que quer participar da administração e está impedido pelas atuais regras. O governo do estado, então, decidiu que fará uma nova licitação e contratou a Fundação Getulio Vargas (FGV) para bolar um novo edital. É aí que a Odebrecht se deu mal.

A construtora, antes de entregar o Maracanã para a administração do Comitê Organizador da Olimpíada no Rio de Janeiro, demitiu todo o seu pessoal. Manteve só as pessoas de que precisava para encerrar a renegociação com o estado e entregar a chave. Se fosse vender a concessão para um terceiro, como queria, tudo certo para ela. Mas a decisão pela nova licitação fura o plano. O Comitê vai devolver o Maracanã para a Odebrecht em 30 de outubro. Digamos que o edital seja publicado em três meses. E que o procedimento para a escolha de um novo concessionário leve mais três. Enquanto rola esse processo, que durará pelo menos mais meio ano, a Odebrecht precisa recontratar funcionários para tocar a operação do Maracanã e atender Flamengo e Fluminense, com quem tem contratos vigentes. Gastar dinheiro é tudo o que a Odebrecht não quer. Ainda mais em um estádio com dezenas de milhões de reais em prejuízos.

O Flamengo propôs uma saída para o curto prazo. A diretoria rubro-negra oferece cuidar da operação – e bancar o custo dela – enquanto a nova concessão não sai. A Odebrecht não precisaria contratar ninguém e se livraria de mais prejuízos. Em troca quer ficar com a maior parte da receita. A esta altura do Brasileiro, com a vice-liderança e a demanda reprimida por jogos no Maracanã, o risco de prejuízo para o clube é baixíssimo. O Fluminense também participa dessa renegociação. “Mudaríamos a natureza do contrato atual e faríamos um aditivo para esse período de transição, que vai da devolução do estádio até a nova licitação”, diz Fred Luz, diretor-geral do Flamengo, por telefone a ÉPOCA. A Odebrecht ainda não topou.

Para o longo prazo, o jogo ainda é incerto. Para que o Flamengo participe da administração do Maracanã, como quer, depende do governo do Rio de Janeiro, que precisaria permitir, diferentemente do que fez na primeira licitação, a participação de clubes de futebol na gestão do estádio. Se isso ocorrer, o Flamengo ainda precisa de parceiros para segurar o tranco financeiro. O prejuízo operacional que o Maracanã deu em 2015, de R$ 22,5 milhões, seria todo absorvido pelo clube se ele entrasse sozinho nessa. Isso significa que parte do dinheiro que hoje vai para o futebol teria de ser redirecionado para o buraco nas contas do estádio. É o que acontece com o Corinthians em São Paulo em proporções mais dramáticas, porque os paulistas prejudicam o futebol para bancar tanto o prejuízo da arena quanto a dívida gerada pela construção dela. E o Flamengo está ciente disso.

“O Flamengo trabalha com conservadorismo e responsabilidade fiscal. Com números. O faturamento do Maracanã em 2015 foi na ordem de R$ 60 milhões. A previsão de aumentar a receita é razoável, mas mesmo assim é o estádio que mais arrecadou entre todos no país. Não vamos nos animar com mais receitas, não. Vamos cuidar das despesas. Adequar o equipamento para ser eficiente na operação, para modularizar o máximo possível, porque ele vai precisar de mexidas para comportar jogos menores”, explica Luz, o principal executivo flamenguista. “Vamos ter buracos no começo da operação. Vamos ter a necessidade de financiar a operação nos primeiros dois anos, porque ela deverá ser deficitária da perspectiva do Maracanã.”

O discurso do Flamengo colide com o de Roberto Medina, “pai” do Rock in Rio, interessado em assumir a concessão do Maracanã. O empresário se inspira na indústria da música e no Super Bowl, a final da liga de futebol americano dos Estados Unidos, para afirmar que o Maracanã poderia arrecadar muito mais do que conseguiu em 2015. Medina defendeu, em entrevista ao Globo esporte, a venda dos naming rights (o direito de rebatizar o Maracanã com o nome de uma marca) e a construção de shopping center, cinemas e outras atrações no local. Num país em que todos os estádios públicos da Copa estão no vermelho, em parte bancados com dinheiro público, e no qual apenas um estádio demonstrou capacidade de gerar dinheiro além do futebol, o Allianz Parque, em circunstâncias absolutamente diferentes das do Maracanã, Medina soa ingênuo. Uma parceria entre Flamengo e Medina, possível, precisa conciliar a megalomania do empresário com o conservadorismo do clube.

O Flamengo depende do Fluminense para chegar aonde quer. Apesar da aliança recente entre os presidente Eduardo Bandeira do Mello, rubro-negro, e Peter Siemsen, tricolor, os dois clubes estão em posições antagônicas em relação ao Maracanã. O Flamengo quer a nova licitação para embarcar na administração. O Fluminense prefere manter o vantajoso contrato com a Odebrecht, de 35 anos, que seria rasgado caso a nova licitação vá em frente. Por outro lado o Fluminense também quer voltar logo ao Maracanã e precisa dele para, como o rival, ter ganhos esportivos e financeiros. Por isso, participa das negociações pela solução de curto prazo e deve se manter atento às de médio. Como tem um contrato na mão, a diretoria tricolor tem poder para embolar qualquer decisão da qual não participe. E o Fluminense, hoje, está em período eleitoral.

Fonte: Época

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