Quem acompanha o Blog Teoria dos Jogos em seus diversos canais de Facebook e Twitter (tanto o particular quanto o novo perfil institucional – curtam!) o faz por certos motivos. Admiram as temáticas aqui abordadas: receitas, precificação, televisionamento, audiências… e pesquisas de torcida. O mundo destas pessoas se viu sacudido na manhã de hoje, quando o Globoesporte.com levou ao ar a ferramenta mais avançada jamais desenvolvida nesta área. Trata-se do “Mapa das Curtidas” do Facebook.
É preciso separar o joio do trigo. Na opinião particular deste blogueiro, a ferramenta é absolutamente extraordinária – uma “ode à improdutividade”. Tanto que na noite de ontem, o editor chefe do Globoesporte, Gustavo Poli, me adiantou (sem detalhes) que aquilo que levariam ao ar me faria gastar horas do meu dia, deixando de lado todos os afazeres. Estava coberto de razão.
Entretanto, sempre coube ao Blog analisar técnica e desapaixonadamente todas as pesquisas de torcida – ou o que se assemelha a tal. Assim, apesar de toda admiração nutrida pela ferramenta, se faz necessário esclarecer por que o “Mapa das Curtidas do Facebook” não é e nem deve ser encarado como uma pesquisa. Freando a euforia de milhares de partidários do “eu já sabia”, os que acham que a questão das torcidas se encerrou por completo neste 25 de setembro de 2015.
O Blog Teoria dos jogos tem por hábito ser critico ferino quando se depara com “más pesquisas”. Sem papas na língua, atingimos nada menos que os dois maiores institutos do Brasil – Ibope e Datafolha, simplesmente por considerar que fizeram um mau trabalho (relembre aqui e aqui). Por adotar esta postura, não podemos ignorar quando o posicionamento é elogiável, caso do Globoesporte.com. Em nenhum momento o portal propagou o “Mapa” como “pesquisa de torcidas” – pelo contrário. Vem dele mesmo muitas das fundamentações adiante exploradas.
O “Mapa” não é uma pesquisa por não possuir cientificidade – o que inicia e encerra a questão. Além de não haver números nacionais ou estaduais, inexistem estratificações (gênero, idade, renda ou escolaridade) e a própria amostra, ainda que robusta, é enviesada. Tratam-se das 50 milhões de curtidas que receberam as páginas de Facebook de 43 agremiações. Embora represente 25% da população do país, o grosso das curtidas se concentra entre populações jovens e incluídas digitalmente. As consequências são claras: benefício aos clubes que mais crescem entre jovens (Corinthians, Flamengo e São Paulo), aos das regiões mais ricas (Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos) e das regiões metropolitanas. Na própria rede social, o líder em curtidas é o Corinthians e não o Flamengo – um descompasso quanto ao verificado nas ruas.
Isto fica claro quando fazemos cruzamento do “Mapa” com pesquisas científicas. Pegando Brasília como exemplo, eis o que dizem as curtidas:
A segunda maior torcida da capital federal seria a do Corinthians, atrás apenas do Flamengo e à frente de São Paulo, Vasco, Botafogo e Palmeiras. Ordenamento que não condiz com a pesquisa elaborada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), exposta ainda na semana passada. Com uma amostra também robusta – mas visitando regiões desassistidas onde ter Facebook não é exatamente uma prioridade – verifica-se uma alteração no ordenamento em favor do Vasco, agora bem à frente de São Paulo e Corinthians. O Fla também sobe.
Esta foi apenas uma entre tantas outras limitações. O “Mapa” (assim como a Codeplan, diga-se) não contempla o universo de pessoas “sem clube”, apenas quem curtiu alguma página. Isto majora percentuais e inviabiliza por completo a projeção dos números sobre o universo populacional de cada cidade. Mais: cada torcedor pode curtir quantas páginas quiser, tornando explosiva a supervalorização das simpatias. Algum pequeno que derrote um clube por quem o torcedor nutra antipatia “angaria votos” fictícios – explicando a Ponte Preta presente em nada menos que 5.187 municípios (93,2% do país).
Diversas outras questões acabam não levadas em conta, como o nível de engajamento das torcidas – mais captável em pesquisas qualitativas de propensão ao consumo. Ou a tendência a se acompanhar mais quando se vive distante do clube do coração. Em casos como este, a internet é a única forma de driblar o foco da mídia local sobre outras agremiações. Por fim, existem centenas de times excluídos, muitos dos quais relevantes em suas regiões de influência – casos do Londrina, Pelotas, Brasil (RS), Juventude, Caxias, Botafogo (SP), Comercial (SP), Moto Clube (MA) e tantos outros.
Diante do exposto, conclui-se aquilo que o Globoesporte em nenhum momento busca ocultar. O que não significa que o “Mapa das Curtidas” não esclareça muito sobre o perfil das torcidas brasileiras. Primeiro porque é única forma de 100% dos municípios serem pesquisados de alguma maneira (além do próprio censo populacional). E segundo por conta de um mantra do Blog Teoria dos Jogos: pesquisas refletem com precisão o perfil da amostra. Se a amostra se enviesa em favor de jovens ou engajados virtuais, ao menos nestes meios o “Mapa” é de uma fidedignidade absoluta.
Ele é bom mesmo. Basta acompanhar nosso histórico de pesquisas de torcida, tanto na era da independência (clique aqui) quanto no próprio Globoesporte.com (aqui e aqui) para perceber. Tudo o que sempre dissemos se vê confirmado: Importância de times locais se esvaindo à medida com que nos afastamos das capitais. Influência de cariocas em partes de Minas e Santa Catarina, além do Norte, Nordeste e Centro Oeste. Maioria paulista em todas as regiões limítrofes com estados que circundam São Paulo. A primazia do Flamengo. O crescimento do Corinthians.
Por tudo isto, e pelas próximas semanas, o Blog Teoria dos Jogos vai se dedicar à análise do “Mapa das Curtidas”, região por região, estado por estado. Imaginamos que, mediante quantidade tão brutal de informações em nossa área de especialidade, seja exatamente isto que espera e demanda nossa audiência. Não tirem o olho. A viagem está apenas começando…
Fonte: Blog Teoria dos Jogos
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