sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Bandeira fala sobre gestão, dívida, futuro e estádio do Flamengo


Uma máquina de fazer dinheiro. Essa é a melhor descrição para o atual momento do Flamengo no cenário nacional.


E isso é comprovado durante a entrevista EXCLUSIVA que o presidente Eduardo Bandeira de Mello cedeu ao portal Eu, Rio! Descreveu todo trabalho e estrutura da sua gestão. Afirmou que dívidas não preocupam mais o clube. 

Disse que o contrato atual com o Maracanã ainda não é o ideal, o objetivo é a concessão ou estádio próprio. E vislumbrou ser campeão de tudo investindo e apostando na base. Confira a entrevista na íntegra e entenda porque o Flamengo não para de crescer: 

Objetivo do grupo que formou a chapa azul de modernização, foco na gestão e profissionalização do clube foi alcançado?


Foi plenamente alcançado. O clube hoje está sendo gerido de maneira profissional. O Flamengo tem um corpo de executivos de fazer inveja as melhores empresas do Brasil. Tem um corpo de vice-presidentes, que são amadores, que funciona como se fosse um conselho de administração. Eles trabalham no plano estratégico, formulando diretrizes, cobrando resultados. Agora, o dia-a-dia do Flamengo é totalmente tocado por profissionais. Acho que esse é o segredo do sucesso do Flamengo.



Presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello - Foto: Staff Images
A que o Sr. atribui o fato de ter mais votos na reeleição que na primeira candidatura?

Foi um reconhecimento de que estávamos no caminho certo. Ainda estamos. Em 2015, na reeleição, ainda tivemos uma dissidência do nosso grupo que concorreu contra e ainda assim  nós tivemos mais votos que no primeiro pleito, maioria absoluta, mais votos que os outros dois candidatos juntos.

Pode nos dizer em números o porquê do sucesso da sua gestão, considerada modelo para o esporte brasileiro e sendo inclusive destaque no New York Times?

Quando chegamos a dívida do Flamengo era considerada insolúvel. Toda matéria sobre a eleição versava sobre a dívida que ninguém nem sabia o quanto era. Fizemos uma auditoria logo nos primeiros dias da gestão para saber o valor exato da dívida, em torno de 750 milhões de reais, que com alguns penduricalhos que apareceram depois se mostrou maior ainda. Cinco anos e meio depois a dívida foi reduzida a menos da metade. Hoje a dívida do Flamengo está um pouco mais de trezentos milhões de reais e totalmente equacionada num longo prazo. A dívida deixou de ser um problema para o Flamengo. Nosso faturamento na época era da ordem de 220 milhões/ano. Hoje passa de 600 milhões/ano. Reduziu drasticamente a dívida e aumentamos de forma espetacular o faturamento. Então hoje o Flamengo é exemplo de administração financeira, esportiva. Citado por várias fontes de imprensa no Brasil e no exterior. Aos longo desses anos conseguimos várias vitórias, não só na área gerencial - ganhamos todos os prêmios de transparência neste tempo - como na área esportiva. Para que você consiga êxito na área esportiva, precisa ter uma base sólida financeira. Outra coisa que fizemos foi investir muito em infraestrutura. O Flamengo tinha um barracão que servia de centro de treinamento e hoje temos um dos melhores centros de treinamento do Brasil. E estamos construindo um outro que com certeza vai ser o melhor do Brasil e o que temos hoje vai ficar para a base. Ainda este ano vamos inaugurar o nosso segundo centro de treinamento, que é um centro de referência internacional e o atual será totalmente dedicado à base. Entendo que trabalhar a base é o mais importante num clube de futebol. O Flamengo no passado era reconhecido como um clube formador de atleta, fomos campeões do mundo com oito jogadores dos onze formados em casa, perdemos está competência e agora estamos recuperando. Um trabalho de longo prazo que já começou e nos permite ganhar vários títulos da base. Em três Copinhas ganhamos duas, temos jogadores convocados para Seleção em todas as categorias, desde 11 anos até o sub 20. Estamos com tudo pronto para chegar aonde realmente interessa que são as vitórias no time profissional.

Mas no futebol profissional, apesar das grandes contratações, o time ainda não conquistou um título de grande expressão como Libertadores ou Campeonato Brasileiro. Na sua visão administrativa, o que está faltando para alcançar tal objetivo?

Vai ser consequência do trabalho que estamos fazendo: investimento na solidez financeira, na estrutura, ciência do esporte, área de capacitação para inteligência, análise de mercado, infraestrutura física e base. Tudo isso somado é receita de sucesso para ganhar tudo no profissional. Isso não acontece de uma hora para outra. E futebol não pode garantir que vai ganhar o próximo jogo, mas garantir que fez um trabalho que vai dar condições vantajosas diante dos adversários para ganhar tudo daqui para frente.

Mas houve um período em que tanto torcedores como sócios do clube estiveram insatisfeitos, colocando que não adiantava cuidar da área administrativa se não gerisse bem o futebol?

Tivemos que fazer sacrifícios no começo. Sacrificamos objetivos esportivos e sociais do clube em benefício da gestão, credibilidade e dignidade do nosso torcedor. A torcida nos apoiou, entendeu perfeitamente. E hoje, ainda que não tenhamos alcançado todos os resultados que almejamos no futebol, a maioria esmagadora da torcida reconhece o esforço e se sente recompensada de ter um clube que é considerado como clube cidadão, que cumpre seus compromissos, que não frequenta os noticiários esportivos com notícias de atraso de salário, não cumprimento de compromissos e contratos não pagos. Coisa tão comum em alguns clubes, mas que no Flamengo não existe mais.

O Basquete na sua gestão foi 4 vezes campeão do NBB (2013 a 2016), campeão da Liga das Américas e do Mundial Interclubes em 2014. O que tem sido feito para o sucesso desse esporte em especial e dos demais esportes no clube, além do futebol?

Basquete é o segundo esporte na preferência da nossa torcida. De 6 NBB conseguimos ganhar 4. Basquete no Flamengo chegou a um nível de excelência que gostaríamos de atingir no futebol e que certamente vamos atingir. Mas claro que o investimento para fazer um time de basquete é muito menor do que para fazer um time de futebol. E nos outros esportes também a intenção do Flamengo é fazer um time de excelência sempre partindo da base, que é feito desde as escolinhas. Evitar contratar um medalhão só para dizer que é atleta do Flamengo, ganhar uma medalha e na realidade não serve nem de exemplo para garotada. A gente quer formar uma base que lá na frente irá ganhar todas as medalhas.

Já passeou pela sua cabeça que o Flamengo crescendo desta forma e seus principais rivais cariocas na contramão disso tudo, com dúvidas que só fazem crescer, o clube no futuro esteja num patamar tão elevado que nem dispute as mesmas competições?

A obrigação do Flamengo é sempre trabalhar para estar no maior nível possível. Mas acho que o trabalho que o Flamengo fez pode ser seguido pelos os outros clubes que também tem grandes torcidas e tradição. Tanto que os confrontos entre os times cariocas são parelhos. Sei que alguns deles estão passando dificuldades, mas acho que a receita do Flamengo pode ser seguida e com algum sacrifício eles podem retornar ao caminho da grandeza que sempre tiveram.

Por que e para que você se filiou a um partido político? Já definiu a qual cargo irá se candidatar?

Está definido que vou me candidatar a deputado federal pela Rede. Entrei no partido porque sou um velho eleitor e admirador da Marina Silva. Entrei para ajudar o projeto de fazer a Marina presidente da República e por solicitação dela acabei me tornando candidato. De maneira nenhuma quero misturar isso com o Flamengo. Tenho compromisso de cuidar do Flamengo até o último dia do meu mandato. Ainda que isso sacrifique meus projetos pessoais, foi ficar no Flamengo dando a mesma dedicação até o final do mandato. E se vier a assumir algum cargo será apenas depois que eu já tiver saído daqui. Após seis anos me dedicando ao Flamengo é natural que eu quisesse me aventurar em algum projeto, seja no setor público ou privado. Tenho que planejar isso agora para chegar em 2019 com uma atividade nova.

Em que a candidatura a deputado federal pode atrapalhar ou ajudar seu trabalho no Flamengo?

A candidatura não vai atrapalhar o Flamengo porque já deixei claro que não vou abandonar o clube um só segundo. Não existe a menor possibilidade de eu negligenciar meu trabalho aqui por conta de nenhum projeto pessoal. Acho que no futuro pode ajudar, o Flamengo e os esportes em geral. A gente entra neste tipo de empreendimento sempre com o objetivo positivo.

O futebol, carro-chefe do clube, teve derrotas que podem alterar o planejamento de conquistas para 2018. O Sr. acha que isso possa ter influência negativa em relação ao candidato da situação a presidência do Flamengo na próxima eleição?

O sócio do Flamengo, eleitor, está vendo o trabalho que está sendo feito. Está avaliando tudo. A campanha do Flamengo este ano, apesar de estar em segundo lugar a um ponto do líder, é a melhor de todos os tempos. Nunca teve uma campanha tão boa nos pontos corridos. A questão da solidez econômica e financeira está sendo também avaliada por todos. Todo nosso trabalho de base que já está nos permitindo ter jogadores formados em casa no time de cima e trabalho de infraestrutura que é todo voltado para o futebol. É claro que uma derrota aqui e ali nos deixa chateados, como uma vitória nos deixa até mais eufóricos do que deveríamos, porém tenho certeza que o sócio do Flamengo vai avaliar nossa administração de uma maneira global.

No início do seu mandato o senhor se declarou um torcedor de arquibancada apaixonado pelo Flamengo, o que muda quando se tem a responsabilidade de administrar o clube e o futebol?

Continuo um torcedor apaixonado, só não sou mais de arquibancada. Estou sendo de camarote por razões de segurança, mas quando terminar o meu mandato com certeza vou voltar pra lá. Procuro agir da forma mais tranquila possível, sem deixar que as paixões interfiram na administração do clube, porque é uma questão de responsabilidade. Gosto tanto do Flamengo que não me permito fazer algo que possa atrapalhar o clube lá na frente. Não posso agir com a emoção de um torcedor apaixonado, mas sou. E de vez em quando até dou algumas demonstrações que não deveria.

Quais foram as melhorias estruturais feitas durante a sua gestão? Teve algo planejado que ainda não foi concluído?

Ao meu ver a Gávea. Veja como está agora e como era quando chegamos? Vamos começar a obra da Arena de Basquete, multiuso, que era um sonho nosso. As melhorias na Gávea vão continuar. Provavelmente teremos um restaurante de alto nível aqui, com vista para a Lagoa, que era uma velha demanda dos sócios, que às vezes vêm pra cá e não tem onde almoçar com a família. Vamos inaugurar um cinema. Vamos inaugurar um museu. O sócio do Flamengo, mesmo o que não gosta de futebol, vai ter muitas atrações aqui para desfrutar.

No futebol, a efetivação do Mauricio Barbieri foi um acerto? Em que momento foi tomada esta decisão?

Não tenho a menor dúvida que foi um acerto. A partir do momento que a vaga de abriu, nós colocamos o Mauricio para preencher porque tínhamos total confiança nele. A única questão que nos fez demorar a efetiva-lo foi porque muitas vezes por mais competência técnica que um profissional tenha, às vezes demonstra menos resistência a pressões externas. Mas ó Maurício foi perfeito. Não se deixou abater por comentários até mal-educados que alguns jornalistas ou sócios fizeram. E hoje tenho certeza de que ele pode ser considerado um dos melhores técnicos do Brasil.

O Flamengo ainda pretende contratar algum reforço?

É possível. Não podemos mais inscrever para a Copa do Brasil nem Libertadores. Mas para o Campeonato Brasileiro até o início de setembro podemos contratar. Se houver necessidade vamos fazer. Mas ainda não tem necessidade.

Qual foi o planejamento das suas duas gestões para o futebol rubro-negro e ele está sendo cumprido?

Planejamento foi de tornar o futebol cada vez mais forte dentro das nossas possibilidades. Sem fazer nenhum tipo de irresponsabilidade. O planejamento está sendo seguido à risca e sempre realimentado pelo processo de definição de metas, de apuração de resultados, tudo como um sociedade anônima muito bem administrada faz.

Ainda este ano o senhor declarou que o Flamengo tem recursos para comprar um terreno e construir estádio próprio. Após a declaração houve um novo acordo com o Maracanã. A ideia de ter o próprio estádio foi interrompida ou adiada?

O Flamengo vai trabalhar sempre com as duas possibilidades. Porque o contrato com o Maracanã ainda não nos satisfaz. O ideal seria que tivesse uma nova licitação para concessão do Maracanã e o Flamengo se habilitar como concessionário, aí sim, se o Flamengo fosse definido como concessionário do Maracana, a gente poderia abandonar o sonho do estádio próprio porque teríamos a concessão do Maracanã. Seria necessário fazer investimentos no próprio Maracanã pra que a gente tivesse essa viabilidade não só econômica e financeira, mas também esportiva cada vez mais definida. Agora, se as autoridades estaduais não tiverem a sensibilidade e a visão de que o Maracanã sem o Flamengo não sobrevive, nós, infelizmente para o contribuinte estadual, vamos ter que partir para o projeto do estádio próprio. Hoje é perfeitamente possível o Flamengo comprar um terreno e construir um estádio que vai demorar quatro anos para ser construído, porém se não houver jeito de assumirmos o Maracanã, vamos partir para isso. Já temos algo em vista. É nossa obrigação.

Como é o contrato atual com o Maracanã?

É um contrato provisório que pelo menos nos dá um horizonte de que vamos estar sempre jogando no Maracanã. As condições financeiras ainda estão longe de ser as melhores. Até porque, para o Maracanã ser viável, requer uma série de investimentos que o Flamengo tem condições de fazer, e aí sim, vai ser a casa do Flamengo com todas as características de rentabilidade e benefícios esportivos que podemos imaginar.

Algum recado para a nação rubro-negra?

Gostaria que continuassem acreditando no Flamengo, na administração e participando cada vez mais, através do programa Sócio-Torcedor que hoje já é a nossa segunda fonte de receita e espero que muito em breve possa ser a primeira.

Fonte: EU, Rio

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