Nas últimas duas temporadas, os clubes brasileiros tiveram eventos que lhes proporcionavam um incentivo ao ajuste nas contas: a implantação do Profut em 2015 e luvas de TV em 2016.
Da CBF, não vieram regras de controle enquanto o governo federal apertará a sua fiscalização neste ano no âmbito do Profut.
Mas, ao final da temporada de 2017, uma parte dos grandes times nacionais está em situação financeira difícil com atrasos salariais, dívidas na praça ou obrigados a realizar cortes drásticos para ano.
Da CBF, não vieram regras de controle enquanto o governo federal apertará a sua fiscalização neste ano no âmbito do Profut.
Um levantamento do blog com a ajuda de repórteres do UOL aponta que pelo menos três grandes clubes têm atrasos salariais: Vasco (dois meses), Fluminense e Cruzeiro. Dois times tiveram novas gestões que adotaram medidas para sanar atrasos de administrações anteriores: Atlético-MG e Santos. Suas diretorias informam que agora os salários estão em dia.
Em outros clubes, houve também ajustes de contas como no caso Corinthians, que fechará com superávit em 2017 após vender Guilherme Arana e renovar com a Nike (a informação do superávit é do presidente do clube, Roberto Andrade). É provável que a venda de Jô entre em 2018. Assim, o clube acertou pendências como luvas de Jô e Pedrinho.
Mesmo para quem está equilibrado financeiramente, há redução de investimentos em contratações para a temporada, como Flamengo e Palmeiras. No geral, as trocas entre jogadores passaram a dominar o mercado brasileiro com poucos recursos.
Fato é que a Apfut (orgão do governo que fiscaliza os clubes) notificou algumas vezes times grandes por indícios de problemas em suas contas durante o ano de 2018. Exigiu explicações. O nome dos advertidos não é revelado.
Mas, a partir de abril ou maio, os clubes terão de declarar que estão com salários em dia para o órgão governamental e começam a correr risco de exclusão. Quem não tem salário em dia corre o risco de exclusão do parcelamento das dívidas fiscais, o que significaria a execução de todas elas.
”Os clubes sempre se baseiam na receita extraordinária para fechar as contas (luvas, venda de jogador, etc). Então, estão sempre apagando incêndio. Quando entraram as luvas (em 2016 após negociação com Esporte Interativo e Globo), era importante ter reduzido o orçamento para se ajustar”, contou o consultor Amir Somoggi, que acompanha as contas dos clubes e previu o problema em 2016. ”Os clubes se alavancam para ganhar títulos.”
Somoggi lembrou que o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou a necessidade da CND (Certidão Negativa de Débito) para disputa de competições. Para ele, reduz a pressão sobre os clubes para manter a questão fiscal em dia, embora nenhum grande clubes tenha sido excluído do Profut até agora.
A eventual punição por irresponsabilidade financeira só poderá vir da Apfut porque a CBF criou regras frouxas em seu licenciamento. O regulamento da entidade para licença de clubes só exige apresentação de balanços, enquanto sistemas de fair play já estão implantados na Europa e na Ásia.
”O filme se repete. É só olhar para o passado para entender como será no futuro. O cara gasta com contratação e depois não tem como pagar salário. É como alguém que compra um carro e depois não consegue pagar IPVA”, contou Pedro Daniel, consultor da BDO Sports Management.
A Fenapaf (Federação Nacional de Atletas Profissionais) informou não ter recebido reclamações de atrasos salariais desses clubes. Nem houve denúncia à Apfut relacionado aos casos listados. A agência atua de acordo com denúncias ou com acompanhamento das contas.
* Colaboraram Bruno Braz, Samir Carvalho, Jeremias Werneck, Bernardo Gentile, Leo Burlá, Diego Salgado, do UOL
Reprodução: Rodrigo Mattos / Blog do Uol
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