quarta-feira, 26 de julho de 2017

Flamengo prioriza novo estádio e dá adeus ao Maracanã, confira:



Alvo de uma disputa interminável entre clubes, consórcio e o Governo do Rio, o Maracanã virou um intrincado desafio financeiro.


O estádio mais famoso do país está sem administrador definido desde meados de 2016, e deixou de ser a casa dos times cariocas – e de torcedores apaixonados que lotavam as arquibancadas.


De acordo com dados levantados pela equipe do socioeconomia.org, os custos do aluguel e da operação da arena ficaram tão altos que só é viável atuar lá em partidas com grandes públicos.

O balanço da concessionária Maracanã S.A., que está em vias de devolver o estádio ao governo estadual, mostra que o prejuízo administrativo nos últimos três anos é de quase R$ 150 milhões. Procurada por telefone e e-mail, a concessionária, comandada pela Odebrecht, não enviou o posicionamento.

Mas, afinal, como um palco que recebeu duas finais de Copa do Mundo se tornou impagável?

O levantamento nos ajuda a entender os custos do Maracanã e por que há um desinteresse em mandar jogos no estádio. Por meio do estudo de borderôs disponibilizados pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), foi feita uma análise de receitas e despesas de duas partidas do Campeonato Carioca e duas disputadas pelo Brasileirão. Nas duas competições foram selecionados jogos em 2009 e em 2017.

Em 2009, dois anos antes de começar a reforma do estádio, Flamengo e Botafogo disputaram a final do Campeonato Carioca. A arrecadação da bilheteria foi de R$1,9 milhão, com um público pagante 78.393 pessoas – o preço médio (média do valor do ingresso de todos os torcedores pagantes) para o jogo foi de R$25,38 (cerca de R$42 em valores atuais corrigido pela inflação do período).

Já neste ano, a receita total do Fla-Flu que decidiu o título do Carioca foi de R$3,2 milhões. Só que a despesa da partida foi de assustadores R$2,1 milhões – três vezes mais do que em 2009. De acordo com o borderô do jogo, foram vendidos 58.399 ingressos, a um preço médio de R$55,51. Em outras palavras, em menos de um década, o preço médio do ingresso para uma final do Carioca aumentou R$ 30 reais para um público pagante 26% menor (embora o estádio tenha diminuído, não atingiu sua capacidade máxima).

TORCEDORES PROTESTAM CONTRA O PREÇO DO INGRESSO

A análise aponta que a reclamação dos torcedores de que os clubes de futebol cobram preços abusivos, especialmente quando jogam no Maracanã, não é lá tão precisa. O ingresso ficou, sim, mais caro, o que afastou parte dos torcedores mais humildes dos estádios. Mas as despesas subiram muito mais.

Como o Maracanã pós-Copa passou a ser gerido por um consórcio de empresas, para um time atuar na arena é preciso desembolsar cifras milionárias. Na final do Carioca deste ano, de acordo com o boletim financeiro da partida, o custo de alugar e operar o Maracanã foi de R$ 1,1 milhão. Outras despesas como a taxa destinada à Federação Estadual de Futebol do Rio (FERJ), aluguel de grades, que ficaram mais caras, entre outros, somam outros R$ 1,1 milhão. Cada clube recebeu R$ 522 mil. A receita bruta total foi de cerca de R$ 3,2 milhões.

As despesas atuais são tão exorbitantes que, há oito anos, os dois clubes finalistas do Carioca levaram para casa R$ 649 mil, cobrando um ingresso mais barato. A diferença é que, à época, o Maracanã pertencia à antiga Suderj, um órgão do governo estadual que cobrava apenas R$ 54 mil pelo uso do estádio.

– É possível reduzir os custos do Maracanã, mas para isso seria necessário uma série de intervenções. Nós queremos trazer torcedores de todas as classes de volta, mas para isso é possível montar uma equação financeira que fique de pé. Administrar o estádio já foi uma prioridade no clube, mas hoje o projeto do estádio próprio está cada vez mais forte – afirma Alexandre Wrobel, vice-presidente de patrimônio do Flamengo.

PANORAMA SEMELHANTE NOS JOGOS DO CAMPEONATO BRASILEIRO

Pode parecer absurdo, mas se cada clube que joga no Maracanã quisesse ter o mesmo lucro do passado, o ingresso teria um preço ainda mais alto. Tome como exemplo o jogo entre Flamengo x Goiás, em 2009, disputado na reta final do Campeonato Brasileiro. Na ocasião, a partida teve 78 mil pagantes e uma renda de R$1,4 milhão – com preço médio do ingresso a R$ 18,70 (R$ 29,21 em valores atuais corrigido pela inflação do período). Como as despesas ficaram em R$ 431 mil, o time rubro-negro levou para casa R$ 1 milhão.

Neste ano, o jogo de abertura do Campeonato Brasileiro, entre Flamengo e Atlético-MG – o único do time rubro-negro na arena -, levou 42 mil torcedores pagantes ao estádio. A arrecadação do jogo foi de R$ 1,8 milhão (com preço médio a R$ 42), e o lucro do time da Gávea foi de R$ 469 mil. Renda maior, lucro menor.

Se o Flamengo quisesse ter o mesmo lucro de oito anos atrás, deveria ter praticado um preço médio de ingresso de R$ 64,78. Ou seja, R$ 22 a mais do que a média paga pelo torcedores.

– Uma parte da explicação do aumento do ingresso é o custo, mas, no caso do Maracanã, existe a questão das gratuidades para crianças até 12 anos e adultos acima dos 65 anos. Essa carga de ingresso concedida pelo governo através de lei estadual acaba também onerando os custos – afirma Edmilson Varejão, vice-presidente da Secretaria Geral do Flamengo. – As entradas gratuitas poderiam servir como forma de atrair o público mais humilde que se afastou do estádio. Mas para isso deveria haver um critério socioeconômico de distribuição dos tíquetes.

PLANEJAMENTO DE RECEITAS QUE NÃO SAÍRAM DO PAPEL

Durante o período de obras do Maracanã para a Copa e a Olimpíada, planejou-se que haveria receitas além da bilheteria para sustentar custos adicionais como o um moderno sistema de iluminação e de som, ar-condicionado e novos elevadores e escadas rolantes. Contava-se, então, com adicionais como venda de camarotes, arrecadação de estacionamento em dias de jogos e recursos obtidos com a construção de um shopping center onde funciona o parque aquático Júlio Delamare. Nenhum dos projetos, porém, saiu do papel.

Para o advogado, especialista em direito esportivo, Pedro Trenghouse, os custos do estádio poderiam ser menores, mesmo sob administração privada.

– Muitas vezes se fala no custo do estádio, mas que custo é esse? Será que concessionária fez boas escolhas ao selecionar fornecedores de alimentação, segurança e manutenção? O estádio é muito caro e poderia ser barateado. Em São Paulo, o Palmeiras escolheu um modelo que é viável. O Maracanã precisa seguir o mesmo caminho.

O Governo do Rio planeja uma nova licitação para encontrar um dono que administre o estádio e consiga gerar receitas. Com tantas prioridades urgentes, ainda não há data para o lançamento do edital.

Fonte: SOCIO ECONOMIA: Por Renan França e Camila Nogaroli*

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