domingo, 23 de abril de 2017

Um estádio do tamanho do Mengão



Após quase ser sacramentada a negociação, pela Odebrecht, envolvida no maior escândalo de corrupção da história do País, às contestadas Lagardère e BWA, a revista VEJA, em sua coluna Radar Online, noticiou, recentemente, que o Governador Pezão, após ouvir a Procuradora do Estado do Rio de Janeiro, resolveu abrir nova licitação visando nova concessão do Complexo Maracanã (Estádio de Futebol, Ginásio Maracanãzinho, Parque Aquático Júlio Delamare e Estádio Celso de Barros).


A torcida do Flamengo recebeu a notícia com um misto de alívio, por prolongar a possibilidade de jogos importantes no Estádio, porém com justificado ceticismo, pois todos sabem que, no Brasil, os processos licitatórios, além de morosos, se tornaram sinônimos de fraudes envolvendo governantes e fortes grupos econômicos, apesar da camuflagem que lhes confere aparente legalidade.

De todo modo, é certo que há duas possibilidades a curto/médio prazo: o Flamengo assumir a gestão do Maracanã, contemplado como integrante de um consórcio, obtendo condições mais justas quanto aos custos, à arrecadação e à exploração dos espaços publicitários no Estádio, ou o Clube construir uma Nova Arena, cogitando-se, a princípio, algumas opções, notadamente em Niterói, na Zona Oeste, na Baixada Fluminense ou na própria Gávea.

Caso assuma o Maracanã, entre outras providências, a Diretoria do Mengão deveria, respeitando as tradições do Clube e a origem preponderantemente humilde de seus torcedores, projetar pontuais modificações, como a reabertura de um Setor Popular, equivalente à antiga Geral, ampliando a capacidade atual do Estádio, a qual já está reduzida, na prática, não apenas pelas reformas para a Copa, mas face à necessidade de destinar um percentual de lugares à torcida visitante, mesmo que não sejam ocupados.

Ressalte-se que, mesmo se for vencedor na provável licitação, o Flamengo, conforme declaração de Cláudio Pracownik, VP de Finanças, cogita construir um estádio pequeno, com capacidade semelhante ao da Ilha do Governador, para jogos de menor apelo. Enquanto isso não acontece, o Estádio da Ilha, apesar de sua localização, poderá perfeitamente receber partidas com tal característica, servindo de Caldeirão Rubro-Negro.

Todavia, se a ideia da licitação retroceder novamente, o que não é impossível em um País com instituições tão corrompidas, ou se for derrotado o Consórcio com o qual o Flamengo deve participar, defendo veementemente a necessidade de o Clube construir um Estádio com capacidade compatível com sua grandeza e com o gigantismo de sua massa torcedora, para, no mínimo, 85.000 torcedores.

Nesse sentido, discordo dessas tendências “gourmetizadas” da FIFA, segundo as quais seriam recomendáveis estádios que recebam em média 60.000 expectadores. Também discordo da ideia que estádios com capacidade superior a essa tendem a dar prejuízos, na medida em que é possível compartimentar setores do estádio, sendo desnecessária a abertura de todos em jogos com menor público. Se o estádio for do Clube e a operação for austera, haverá lucro mesmo com 1/3 da capacidade preenchida em jogos corriqueiros.

Ademais, se houver fácil acesso, boa estrutura e segurança no entorno do estádio, aliado a um time que tenha ídolos e empolgue o torcedor, antevejo, sem esforço, muitos jogos do Flamengo com público superior a 90.000 pessoas.

Ora, quem torceu no antigo Maracanã, em meio a 90 ou 100 mil rubro-negros, sabe que a emoção é incomparável com a experiência do atual Mário Filho. Se o atual ainda é bonito e empolga, o antigo era simplesmente mítico e inspirador.

Cabendo atuais 99.786 torcedores no Camp Nou, construído em 1957, com acesso tranquilo e descomplicado, conforme tive o prazer de presenciar no ano de 2010, em jogo do Campeonato Espanhol, não há motivo algum para o Mengão, com 40 milhões de apaixonados no País e 8 milhões apenas no Estado do Rio de Janeiro, pensar em algo acanhado para si.

Nesse sentido, melhor ainda será se esses 80 ou 90 mil torcedores rubro-negros forem alocados em arquibancadas bem próximas ao campo, no estilo de uma La Bombonera maior e mais moderna, para que não só nosso time seja empurrado pelo grito da Nação, mas para que os adversários e juízes, mesmo sem violência expressa (que traria punições), se sintam pressionados e acuados em nossos domínios.

Enfim, este é o começo de uma longa conversa, pois o imbróglio Maracanã deve demorar ainda um tempo razoável até encontrar um final, feliz ou não, mas é certo, na minha percepção, que o Flamengo nunca pode esquecer que é Flamengo, de onde veio, o que já conquistou e o que ainda pode conquistar.

Deixemos estádios menores para rivais menores, cujas torcidas, todas juntas, nunca irão se equivaler à nossa nem em qualidade nem em quantidade. Isto aqui é Flamengo e, parafraseando nosso treinador atual, “os voos do urubu são altos”. Não pode ser diferente. Vamos, Flamengo!

Fonte: Coluna do Flamengo

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