"Eike Batista disse que vai dar de presente um jogador CLASSE A pro Fogão.
Até o nome de Messi já foi cogitado.
Sentiu o nível?"
Twitter oficial do Botafogo, 10 de dezembro de 2009.
"Já disse várias vezes.
Se aceitassem uma administração profissional, contem comigo!
Fora isso, é uma brincadeira."
Twitter de Eike Batista em janeiro de 2012, se referindo ao Botafogo.
O clube carioca escapou por mero acaso de ter uma profunda ligação com o bilionário. Foram anos de tentativas de aproximação de inúmeros dirigentes e conselheiros botafoguenses. Chegaram a pensar a administração nas suas mãos. Sonhavam que ele colocasse algumas centenas de milhões que revolucionasse, acabasse de vez com os eternos problemas financeiros.
Ao longo de anos, conselheiros da situação e da oposição sonhavam com a chegada do super-executivo. Ele poderia escolher o cargo. De presidente a vice de futebol, a patrocinador, até eminência parda estaria valendo.
Apelavam para o seu pretenso amor ao time de Garrincha, Gerson, Didi.
A insistência foi enorme. Principalmente quando ele estava vivendo seu auge, nos anos de 2010 e 2011, quando a prestigiada revista Forbes anunciou aos quatro ventos. O brasileiro era o oitavo bilionário do mundo. Sua fortuna? 30 bilhões de dólares, cerca de R$ 93,7 bilhões.
O presidente do Botafogo era Maurício Assumpção. Ele fez absolutamente de tudo para seduzir Eike. Colocou o clube à sua disposição. A ligação era intensa. A ponto do bilionário ceder seu navio Pink Fleet para o lançamento do uniforme que o time iria usar em 2010.
Eike foi sincero com Assupção e sua entourage.
Ele queria comprar o Botafogo.
Ter o controle total e absoluto do clube.
Usar a equipe como propaganda de suas empresas.
Maurício disse que a legislação brasileira tornava a negociação impossível.
Eike poderia ser, no máximo, o patrocinador e ter ingerência direta no futebol. Agiria como Celso Barros fazia no Fluminense. Teria direito a foto na torcida, tirar fotos com as possíveis taças. Escolher técnico, jogador.
Mas o bilionário foi analisar as dívidas botafoguenses.
Na época, elas chegavam a R$ 593 milhões.
Ele analisou também a infraestrutura do clube.
E desistiu.
Não iria colocar seu dinheiro e não ter o controle absoluto.
Já que no futebol não via profissionalismo na administração.
Até o presidente teria de se submeter a conselheiros.
Não cometeria o amadorismo de dar jogadores como Celso Barros.
Ainda mais sabendo que o vínculo seria todo do Botafogo.
Tomou um susto ao saber que pessoa física não poderia ter atletas.
Mesmo assim, Assumpção insistiu.
Só que não houve interesse.
Eike só iria a se envolver com futebol com o Flamengo.
A transação foi um fracasso.
Como explicitou o jornal O Globo, em janeiro de 2016.
"Fim da linha para o projeto de Eike Batista que transformaria o Edifício Hilton Santos, antiga sede do Flamengo, no Morro da Viúva, em hotel. O Conselho Deliberativo do clube aprovou o distrato do contrato de locação firmado em março de 2012 com a REX, braço de gestão de ativos imobiliários da EBX, antiga holding do empresário. As chaves serão devolvidas nesta sexta-feira ao Flamengo, que já contratou nova empresa para cuidar da segurança do prédio.
"O grupo “X” desembolsou R$ 19 milhões em luvas e taxas pela locação do prédio, num contrato de concessão de 25 anos e renovável. Deste total, R$ 2,5 milhões foram gastos com a desocupação do edifício, entregue à REX em junho de 2013. Na época, a previsão de Eike era investir mais de R$ 100 milhões para transformar o prédio de 150 apartamentos num quatro estrelas com 450 quartos, com inauguração prevista para até o fim de 2015. Com a crise em suas empresas, o projeto não saiu do papel. O prédio ficou vazio, passou por invasões e hoje acumula problemas elétricos e hidráulicos."
A devolução do prédio foi uma grande decepção para os dirigentes flamenguistas.
Eles acreditavam que iriam intensificar a relação com Eike.
Até porque, o vice de futebol, Flávio Godinho, era o braço direito do empresário. Só que tudo começou a desmoronar na semana passada, com a prisão de Godinho pela Polícia Federal. O dirigente é acusado de participar de ocultação e lavagem de dinheiro das propinas que eram recolhidas das empreiteiras que faziam obras públicas no Rio de Janeiro.
Sua prisão trouxe enorme constrangimento na Gávea.
Principalmente no presidente Eduardo Bandeira de Mello.
A prisão de Eike Batista hoje foi vista com alívio.
Alívio porque o Flamengo não concretizou outros negócios com ele.
Evitou um vexame ainda maior.
A sensação é a mesma na direção do Botafogo.
Por pura sorte os dois clubes não se entregaram a Eike.
Fizeram de tudo.
As negociações não aconteceram porque o empresário não quis.
O homem acusado de dar R$ 52 milhões de propinas ao corrupto governador Sérgio Cabral não quis se envolver com o futebol brasileiro. Não considerava seguro colocar seu dinheiro no que considerava um ambiente amador, pesado, perigoso, incontrolável.
Agora, Eike repousa, tranquilo.
Com a cabeça raspada, no presídio de Bangu.
Pode tomar uma bebinha.
Não Henri Jayer Richebourg Grand Cru, como estava acostumado.
Mas, talvez, repartir uma Catuaba Selvagem com Sérgio Cabral.
Como sugeria um homem ao assistir a sua deprimente chegada à prisão.
E seguir bem longe do futebol...
Fonte: Cosme Rimoli