Em 7 de fevereiro, às 18h32, apurando informações, este blogueiro perguntou, por intermédio de mensagens, se o Flamengo iria atrás de um goleiro reserva.
A necessidade era clara, óbvia até, afinal, o titular era Alex Muralha e seu reserva, Thiago, então com 20 anos (é de 12 de junho de 1996), havia atuado apenas no segundo tempo do amistoso que abriu a temporada rubro-negra — derrota por 2 a 1 para o Vila Nova, em Goiânia.
Paulo Victor havia sido emprestado ao Gaziantepspor duas semanas antes, ou seja, em tese o elenco contava com apenas um arqueiro com experiência entre profissionais. “Deveremos esperar o retorno do César! Não vamos contratar! Acreditamos no Thiago! Se não acreditássemos não teríamos liberado o PV!”, foi a resposta de um dirigente
Ele se referia ao goleiro campeão da Copa São Paulo de Juniores em 2011, que atuou em 15 pelejas pelo Brasileiro e duas da Copa do Brasil em 2015, quando Paulo Victor se lesionou. E foi mal. Emprestado no final de 2016 à Ferroviária, voltou dois meses depois praticamente sem atuar pelo time do interior paulista. Antes passou pela Ponte Preta, mas não entrou em campo, ficou no banco 23 vezes. César não defende a meta rubro-negra desde a derrota para o Palmeiras (2 a 1) em 6 de dezembro do ano retrasado, na rodada derradeira do campeonato nacional. Hoje o jovem que fará 26 anos em 27 de janeiro é a única opção de Reinaldo Rueda, caso o técnico não queira manter Alex Muralha entre os titulares após a desastrosa atuação na derrota para o Santos, quando ele foi o responsável pelo resultado.
No Brasileirão de 2015, Muralha, disputou 34 jogos e sofreu 42 gols vestindo a camisa do Figueirense. No currículo, além do time catarinense, ele tinha Votoraty de Votorantim (SP), Comercial de Ribeirão Preto (SP); Oeste de Itápolis (SP), Cuiabá (MT), Shonan Bellmare (Japão) e Mirassol (SP). O Flamengo o contratou no final daquele ano por aproximadamente R$ 4 milhões, ficando com 50% dos direitos. Fora o Campeonato Carioca e a Primeira Liga, levou 53 gols em 56 jogos por diversas competições. Em 2017, muitos em falhas, como contra o Sport no Recife, Santos na Vila e na Ilha, Paraná em Cariacica, Atlético em Curitiba, Junior de Barranquilla no Maracanã, entre outras, além de nem passar perto de defender pênaltis, com bola rolando e em disputas diante do Fluminense, Paraná e Cruzeiro.
Os dirigentes responsáveis pela contratação de Alex Muralha o protegeram, apostaram nele e insistiram a ponto de ter na reserva imediata um arqueiro que jamais jogara no time profissional. Só foram buscar um camisa 1 compatível com o investimento feito no elenco em julho. Isso após forte movimento feito por torcedores nas redes sociais pedindo Diego Alves, que sinalizava claramente seu desejo de defender o clube. Mas ele se machucou na quinta-feira e só voltará a atuar em 2018. O polêmico arqueiro voltou a ser titular e foi o responsável pela 12ª derrota da equipe no campeonato (venceu 14 vezes), neste domingo — 1 a 2 Santos, veja os gols no vídeo abaixo. Reinaldo Rueda não tem opções seguras, foi quase obrigado a escalar Muralha. César não joga pelo clube há quase dois anos e Thiago se recupera de lesão e carrega as marcas da falha contra o Cruzeiro na final da Copa do Brasil. Beco sem saída.
O colombiano não é o culpado, afinal, suas alternativas são quase nulas diante da contusão do titular, e Muralha não deve ser apontado como o maior responsável por essa situação. A responsabilidade é de quem o contratou, apesar da avaliação que o repórter Raphael Zarko, do site Globo Esporte, revelou em matéria de abril — clique aqui e leia. Nela, dados de um relatório do Centro de Inteligência e Mercado do Flamengo mostrando que o então titular do Figueirense não estava na lista de “possibilidades” do clube. Mais bem avaliados apareciam diversos goleiros, entre eles Paulo Victor — saiu de graça em 2017 para defender o Grêmio, que pode ser campeão da Libertadores na quarta-feira. O clube respondeu ao jornalista que “o documento era um balizador”.
Erros de avaliação e montagem do elenco, com a participação de Zé Ricardo, técnico na pré-temporada e até sua demissão, em agosto; Eduardo Bandeira de Mello, presidente e então vice de futebol; Fred Luz, CEO, e Rodrigo Caetano, diretor-executivo. Surpreendentemente Tite convocou Muralha como suplente em setembro de 2016. Na época o elogiou, era uma das seis novidades em relação à primeira lista do técnico. As outras foram Thiago Silva, Fernandinho, Roberto Firmino, Douglas Costa e Oscar. Atento, o treinador corrigiu seu erro e nunca mais chamou o goleiro do Flamengo, que nitidamente não era jogador para a seleção. Já os cartolas seguiram achando que tinham um arqueiro selecionável. Ilusão e desconhecimento de futebol que até hoje custam caro.
Muralha tem culpa pelos seus erros, pela irresponsabilidade no primeiro gol santista, por não corrigir seus defeitos, reprisados como filmes antigos numa sessão da tarde. Por aparentar falta de noção sobre o próprio trabalho, como no vídeo abaixo, quando deixa o campo após errar terrivelmente e diz: “Fizeram uma imagem minha de um goleiro ruim, deu um goleiro fraco”. Obviamente ele faz a própria imagem. Mas sua presença na meta, voltando ao gol insistentemente como um bumerangue, é obra dos cartolas que desde fevereiro eram questionados por jornalistas e por outros dirigentes ante a evidente necessidade de outro goleiro experiente. Tardiamente buscaram um, o que obviamente é pouco, e a temporada confirma a tese. Quando o torcedor ver o goleiro errar, errar e errar, pode pensar nele e nos cartolas que fazem mal aquilo que se propõem.
Fonte: Mauro Cezar Pereira/ESPN
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