Antes do jogo com o Cruzeiro, já se especulava que o Flamengo poderia ser um time vulnerável numa eventual decisão por pênaltis.
Como se a condução para uma disputa na marca do pênalti não o incomodasse tanto.
Ainda assim, e embora não seja traço tão surpreendente numa final, em especial quando jogada no campo adversário, o jogo mostrou um rubro-negro que tentou minimizar riscos, em especial no segundo tempo.
Como se a condução para uma disputa na marca do pênalti não o incomodasse tanto.
É justo dizer que detalhes separaram o Flamengo da taça em Belo Horizonte. O caso é que, perdido o título, a falta da tal dose adicional de ousadia, ou mesmo de ambição, dominou o debate. Ganharam destaque fatores como a perda de uma cultura de vitórias no clube ou até questões anímicas, o compromisso, a vontade, argumentos habituais no futebol brasileiro. Todos pertinentes, válidos, porque futebol é uma mistura complexa de componentes, dos táticos e técnicos aos de ordem emocional. Mas o futebol não permite mais menosprezar outro aspecto: o processo de construção de time.
A tão falada coragem, que normalmente se traduz em campo numa aparente sensação de vontade, de empenho, tem ligação direta com a confiança num plano, num modelo, numa forma de jogar. Algo que as condições que cercam a formação e a gestão do atual elenco, neste momento, não permitem. E aí cabe a pergunta: este Flamengo que enfrentou o Cruzeiro estava preparado para ser ousado, para assumir o protagonismo do jogo e atuar no campo rival? Estava preparado para ser corajoso?
O Flamengo que jogou sua final mais importante do ano tinha quatro dos mais importantes e caros jogadores do elenco impedidos de jogar. Foram contratados no meio da temporada e, portanto, tornaram-se inelegíveis para a Copa do Brasil. O Flamengo que jogou a decisão de Belo Horizonte tinha, à beira do campo, um técnico com 40 dias no cargo. Um homem que chegou da Colômbia, dirigiu dois treinos antes de iniciar uma tensa semifinal com o Botafogo e que, em seguida, passou a ter que administrar um elenco que contava com peças diferentes de acordo com a competição que disputava. Pisava um território novo, desconhecido, com necessidades imediatas de resultado e um excesso de contratempos para gerir.
Um cenário com lógica consequência: o Flamengo não tem, em setembro, um modelo de jogo pronto, consolidado. Não é possível a este time ter confiança em seu jogo, em sua capacidade de sair a campo para controlar um rival e ter a rédea da partida, com todos os riscos que tal atitude envolve. Não pode fazer de uma ideia, de uma filosofia de jogo, o seu porto seguro. Porque são ideias embrionárias.
Competente nos gabinetes, o Flamengo ainda tropeça em seu projeto esportivo. Não significa que Diego Alves, Rhodolfo, Geuvânio e Éverton Ribeiro não devessem ser contratados. Dadas as condições econômicas que ditam regras na dura competição com o mercado internacional, as grandes oportunidades de mercado costumam se apresentar aos clubes brasileiros no meio de temporada. Assim o Flamengo recebeu Diego e Guerrero, embora este último viesse de outro clube do país. O caso é que, em algum momento, o projeto terá que contemplar a estabilidade, a continuidade. Dentro de campo e na área técnica.
Num mundo em que dinheiro e resultados esportivos são cada vez mais interdependentes, o próprio Flamengo criou condições para se colocar sempre na disputa de títulos. Recuperar identidade vencedora, ampliar a cobrança interna, mobilizar time, todos estes aspectos são parte do jogo. Respeitar os processos, também.
Fonte: Coluna do Flamengo
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