O Flamengo vivia dias tumultuados. Os jogadores protegidos por seguranças, ouviam torcedores organizados os ameaçarem de agressão. Dirigentes deixavam claro que o time era fraco por falta de dinheiro. A imprensa carioca não se conformava com os péssimos resultados. Havia o medo de rebaixamento na Gávea.
A diretoria resolveu investir pesado. Eduardo Bandeira de Mello, pressionado, percebeu que deveria mudar a sua filosofia. Economizar iria ficar para segundo plano. Ou sua chance de reeleição no final do ano seria nula. Buscou a personalidade e a maturidade de Sheik e o potencial de idolatria de Guerrero.
Foi um tiro certeiro. Carismáticos, talentosos, os dois precisavam também se reinventar. Sheik precisava mostrar que sua carreira não estava no final, como parecia no Corinthians. E o peruano provar que valia cada centavo que a diretoria corintiana não quis apostar no seu futebol. Afinal, são mais de R$ 41 milhões em um longo contrato de três anos que assinou.
Nem mesmo os familiares de Guerrero esperava um começo tão fulminante. O atacante não só se encaixou perfeitamente no grupo, como está mostrando todo seu potencial. De forma efetiva. Foram três jogos e três gols determinantes. Primeiro em Porto Alegre, contra o Internacional, arrancando três pontos diante da apaixonada torcida colorada. Depois, a festa foi em Recife. Os pernambucanos do Náutico haviam conseguido empatar em 1 a 1 no Maracanã, quando o time carioca ainda não tinha Guerrero. Com ele em campo, o Flamengo se impôs, vencendo por 2 a 0, com o peruano marcando o segundo, definindo a partida e a classificação para as oitavas de final.
Eis que chega a partida contra o Grêmio. Estreia do atacante diante da torcida. Atleta que a direção do Flamengo sonha em transformar não só em ídolo flamenguista. Mas no maior do país. Seus especialistas em marketing já buscam contatos em agências para transformá-lo em garoto propaganda. Até o placar do estádio se rende à estreia.
51.055 torcedores pagaram para ver a estreia de Guerrero na sua casa, o Maracanã. O maior público no Brasileiro foi responsável por uma arrecadação de R$ 2.070.015,00. O adversário, o aguerrido Grêmio, de Roger. Foi um jogo pegado, batalhado, sofrido. Mas a estrela do peruano e o seu faro de artilheiro seguiram firme. Oportunista, não desperdiçou a chance, depois de rebote de Marcelo Grohe, aos 40 minutos do primeiro tempo.
A arena pareceu balançar. Ele fez questão de comemorar com os seus companheiros de time. A partida continuou duríssima. César teve de se empenhar, fez ótimas defesas. Aos 30 minutos do segundo tempo. Escanteio para o Flamengo, Airton bate muito bem na bola. Guerrero salta e ajeita para Wallace, o zagueiro livre na área cabeceia forte, no travessão. Mas o gol do peruano foi suficiente. Festa no Maracanã. Afinal, nas últimas três partidas jogando no estádio mais importante do Brasil, o clube havia sido derrotado.
“Estou muito feliz. Lindo o ambiente. É legal ver a torcida feliz porque o time ganhou. Trabalhamos forte porque sabíamos que o Grêmio seria forte e duro. Trabalho para o time. Fiz um gol para ajudar. Se não tivesse feito, também estaria feliz. O grupo entra em campo para jogar. Acho que o Flamengo tem elenco bom e de qualidade. Tenho certeza que esse time vai seguir dando alegria.” As declarações de Guerrero foram perfeitas. Mostrou seu entusiasmo, mas valorizou o grupo. Não quis capitalizar, ficar com todo o crédito. Postura digna, correta.
Mas do outro lado do gramado, inesperada água fria. Vindo de quem menos se esperava.
“A torcida veio por causa do Guerrero, não foi por causa de nós, não.
Tínhamos que ganhar simplesmente por ser o Flamengo e por ser a nossa obrigação, em casa, com a torcida enchendo o estádio. A estreia do Guerrero no Maracanã é importante, mas tínhamos de vencer com ou sem ele.”
A ironia e a irritação partiram justo do jogador melhor dotado intelectualmente do elenco de Cristóvão. Justo o capitão do time resolvia estragar o ótimo momento. A ressurreição fantástica do time. Parecia que estava incomodado com o sucesso do novo ídolo flamenguista. Tomado de um sentimento menos nobre, a inveja.
Wallace foi massacrado nas redes sociais. Torcedores passaram todo o final de semana cobrando sua saída do time, do clube. Principalmente membros das organizadas. Conselheiros também passaram a cobrar uma atitude de Eduardo Bandeira de Mello. O capitão da equipe não poderia sabotar o Flamengo. A imprensa carioca também ficou revoltada. Justo agora que estava nascendo um ídolo na Gávea, alguém tentava atrapalhar.
Nem o jogador e muito menos a direção do clube esperavam uma reação tão violenta. Wallace precisava se explicar. Mas o domingo era de folga. Só que não havia como esperar até hoje. Seu pedido de desculpas veio pelo facebook.
“Ontem após a vitória do Flamengo contra o Grêmio, dei uma entrevista na saída de campo e fui mal interpretado por algumas pessoas. No Corinthians, um dos jogadores que eu mais era próximo era o Guerrero. Portanto, não existe ciúmes.
“Pelo contrário, eu o exaltei e frisei a importância dele pro time, já que com ele em campo ainda não perdemos. Não tenho a menor dúvida sobre a paixão da torcida pelo Flamengo. Em dois anos e meio de clube, já vi e vivi coisas que não presenciei em lugar algum.
“Mas, ao meu ver, pelo que estávamos jogando, não merecíamos um estádio lotado como aquele. O apelo do jogo foi a estreia do nosso atacante. E foi isso que quis dizer. Mas, se algum flamenguista entendeu de outra forma, minhas sinceras desculpas. Tenham certeza que estarei sempre pensando no melhor para o nosso time.”
Wallace mexeu em um vespeiro. A repercussão continua fortíssima nas redes sociais. Cresce o apelo aos dirigentes flamenguistas que negociem o zagueiro. Conselheiros ainda seguem irritados. Dirigentes e Cristóvão acreditam que todo esse clima ruim foi criado de forma desnecessária pelo jogador.
Há a certeza de que é preciso mais. Mostrar publicamente que não há inveja, ciúmes. No treinamento do Flamengo seria ótimo um velho truque. Um longo abraço entre o capitão do time e o atacante. Que dê tempo para os fotógrafos e cinegrafistas capricharem e mostrar que não há ressetimento na Gávea. E que o foco volte apenas na luta pela recuperação do Flamengo no Brasileiro. O time segue apenas a três pontos da zona do rebaixamento, mesmo com as duas vitórias desde a chegada de Guerrero.
Faltou bom senso a Wallace. Justo o capitão do time. O mais esclarecido. Não tinha o direito de estragar a festa que era do Flamengo e não de um jogador. E agora paga por isso…
Fonte: Cosme Rimoli
Bora wallace!!
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